Título: Brinquedo nacional perde para rivais ruins e baratos
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/02/2005, Economia, p. B3

RIO - Depois de três anos caindo sucessivamente, as importações de brinquedos reagiram e praticamente duplicaram em 2004, comparadas ao ano anterior. O crescimento foi de 97% e os valores chegaram a US$ 63 milhões (o equivalente a R$ 170 milhões, ao câmbio atual). Os produtos vindos de fora, com design invejável e qualidade duvidosa, segundo lojistas, inundaram o mercado e roubaram espaço dos nacionais. No mercado, as estatísticas dizem pouco aos consumidores, que quase nunca se preocupam com a procedência do produto: querem é preço baixo e diversão. "O importante é que caiba no bolso. Se cabe e agrada, levo", disse a professora Marília de Fátima dos Santos, que levou as duas filhas pequenas, Raquel e Raiane, a uma loja de brinquedos no centro do Rio semana passada. Do outro lado do balcão, Jorge Auad, dono da Santex Briquedos, conta a mesma história. "O consumidor não quer saber de onde vem o produto, se tem selo do Inmetro. Ele procura novidade e preço barato."

Os números da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq) mostram que o nível de importações voltou ao mesmo nível de 1999, mas ainda está abaixo do período inicial do Plano Real, quando o câmbio favoreceu as compras externas. "A indústria nacional teve um desempenho ruim em 2004, porque foi tomada pela concorrência. Os importados não acrescentaram mercado, roubaram espaço. Foi um arraso", diz o presidente da Abrinq, Synésio Batista.

Pela contas da entidade, a fatia dos importados no mercado avançou de 10% para quase um quarto do mercado total, com base nos dados oficiais de importações. "O sujeito quer importar, não tem como segurar", diz Batista. Ele argumenta que existem, ainda, outros dois problemas: o subfaturamento e a pirataria. A Abrinq estuda os números do comércio exterior, pois os preços médios dos brinquedos caíram fortemente, o que seria indício de subfaturamento.

Além disso, há a questão da pirataria, que já movimentaria, segundo a entidade, cerca de R$ 100 milhões no País - o mercado formal é estimado em R$ 850 milhões. O representante da Abrinq afirma que entidade vai centrar fogo este ano contra a pirataria e vai tentar brigar para "vencer este jogo contra o subfaturamento".

Neste cenário, a prorrogação, definida em dezembro, da vigência de uma salvaguarda sobre as importações de brinquedos por um ano e meio foi uma decisão bem-vinda para o setor, mas não resolve todos os problemas, diz um executivo. Segundo ele, alguns importadores declaram valor abaixo do real para os produtos que trazem para o País.

Assim, com este subfaturamento, o efeito punitivo do imposto não surte efeito. Em paralelo, a valorização do câmbio também incentiva a importação e aumenta as margens de negociação. Para Batista, as importações em 2005 serão crescentes. "Os lojistas brasileiros têm um encanto muito especial por brinquedo importado", desabafa o executivo da Abrinq.

Espremida entre grandes grupos estrangeiros de um lado e pela informalidade, do outro, a indústria brasileira tenta se ajustar ao cenário. O diretor de Marketing da Estrela, Aires José Leal Fernandes, diz que a empresa se considera competitiva "no mercado organizado e legal" e investe em reestruturação administrativa, produtividade e eficiência. Na semana passada, teve a falência requerida por dois fornecedores da área gráfica, mas comprovou que já havia renegociado as dívidas.