Título: Aliados se desarticulam com indefinição
Autor: Fabiana Cimieri e Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2005, Nacional, p. A4

Desmobilizada com a fritura de Aldo, base deixa governo à mercê da oposição BRASÍLIA - A indefinição sobre o destino da coordenação política do governo incomoda partidos da base aliada e, enquanto aguardam o desfecho da reforma ministerial, os líderes estão desmobilizados até para as votações na Câmara. Nesta semana, reuniram-se por pressão dos prefeitos para votar a reforma tributária e sem consenso. Pela primeira vez, o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, não participou da reunião que aconteceu no Palácio do Planalto, deixando os líderes órfãos. "Sem definição, fica paralisada a articulação do Congresso com o governo", avalia o líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES). A desarticulação deixou o governo à mercê da oposição na condução dos trabalhos na Câmara. O governo teve de digerir uma pauta com assuntos que não são de seu interesse e ameaçam o ajuste fiscal, como a proposta emenda constitucional paralela da Previdência, que continuará em votação na próxima semana.

"Temos de repactuar a base. Essa instabilidade vem em parte dessa demora da reforma. Muitas pessoas estão se aproveitando da situação para criar dificuldades e vender facilidades", disse o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder do governo na Câmara. Ele considerou que o governo também deve mostrar autoridade com a base. "A orientação precisa ser clara. A base não tem só direitos, mas também deveres", completou. Para o líder do PTB, José Múcio Monteiro (PE), "a situação não pode ficar como está e é preciso que ministros cumpram as determinações do Planalto".

O líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), reconhece que há problemas. "Insegurança nunca é bom, não ajuda. Mas isso não está impedindo a gente de trabalhar", disse. O destino de Luizinho na função também é alvo de indefinição já que seu posto está vinculado à coordenação política do governo.

As especulações com a demora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em redefinir equipe criaram outra preocupação entre aliados. Eles que a eventual nomeação de político do PT, como o deputado João Paulo Cunha (SP), para o lugar de Aldo Rebelo sirva para isolar outros partidos. Na avaliação desses partidários, a briga por cargos, que já é grande, vai se acirrar. Por isso cresceu, sobretudo no PTB e PP, a preferência para que a coordenação política volte às mãos do ministro José Dirceu, da Casa Civil. Dirceu tem poder e controla cargos.

Inconformados e impacientes com a "fritura" de Aldo Rebelo, deputados do PPS, PSB e do PC do B ameaçaram, nesta semana, iniciar movimento em favor do ministro, com pronunciamentos na tribuna. Mas recuaram da idéia, pois isso poderia significar pressão em favor de sua permanência e, ao mesmo tempo, deixaria Lula em situação desconfortável.

"O presidente não pode ficar fazendo a política do PT se quer trabalhar pela reeleição. O que acontecerá se tudo ficar nas mãos do PT?", perguntou um líder, para quem os partidos da base tinham com Aldo um interlocutor junto ao presidente e com João Paulo esse canal pode ficar obstruído. "Seria o governo do eu sozinho", completou outro líder, que também prefere não se identificar.