Título: FHC adverte para 'dose exagerada' na política econômica
Autor: Flávio Leonel
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2005, Nacional, p. A10

Para ex-presidente, governo precisa saber quando aumentar ou reduzir juros O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou ontem em Madri (Espanha) que o governo Luiz Inácio Lula da Silva não pode "exagerar na dose" da manutenção da política econômica, praticada, segundo ele, nos moldes semelhantes aos dos oito anos de seu governo. Em entrevista à Rádio Eldorado, FHC destacou que é preciso saber o momento necessário para aumentar a taxa de juros, e também reconhecer quando reduzi-los - uma situação que ele próprio teria enfrentado. "Precisa tomar cuidado para não errar na dose. Políticas econômicas não são receitas", advertiu ele, que participou da Cúpula Internacional sobre Democracia, Terrorismo e Segurança. "A responsabilidade diante do País obriga a um certo controle do gasto, um superávit, porque temos dívida. Que, eventualmente, por causa da inflação, se eleve a taxa de juros. Mas repito: eventualmente, porque a gente perde a oportunidade de baixá-la. Isso aconteceu comigo", acrescentou. "No geral, a equipe econômica tem seguido as linhas do que fazíamos quando estávamos na Presidência."

Fernando Henrique disse não ver necessidade de Lula se retratar oficialmente do discurso que fez no dia 24, em Jaguaré (ES), onde disse ter mandado um "alto companheiro" calar-se sobre supostos casos de corrupção do governo anterior. O ex-presidente ressaltou que apenas gostaria que Lula admitisse que se equivocou.

"Espero que ele entenda que é muito mais fácil dar a entender que exagerou. Mostraria que o País tem um presidente que, além da legitimidade do voto, tem a capacidade de dizer: bom, eu me equivoquei", comentou. "De minha parte, se ele tiver algum caso real de corrupção, tem obrigação de dizer qual é. Eu preciso saber e sou interessado em esclarecer."

Ao falar de política, ele reconheceu que o PSDB teve dificuldades na oposição ao governo Lula, mas argumentou que isso ocorreu por causa do tempo que o partido ficou no poder. "O PSDB teve algumas dificuldades, mas agora está bem posicionado."