Título: Fraudes na Previdência atingem R$ 1,4 bilhão e valor pode triplicar
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2005, Nacional, p. A12

Rombo deve ser maior porque alguns crimes, descobertos entre 2004 e 2005, não foram totalmente mapeados BRASÍLIA - Em 34 operações realizadas de janeiro de 2004 a fevereiro de 2005, a Polícia Federal descobriu fraudes que somam até agora prejuízo de mais de R$ 1,4 bilhão aos cofres da Previdência Social. O total do rombo pode triplicar porque algumas fraudes mal começaram a ser mapeadas. Entre os 161 presos nessas operações, cerca de 100 são servidores ativos e inativos da Previdência. Pelo menos 80 deles já retornaram ao trabalho porque o Ministério não tem agilidade na conclusão dos processos administrativos, nem dispositivo legal que permita o afastamento preventivo do servidor sob suspeita. O retorno dos suspeitos ao trabalho cria um ambiente de constrangimento para os demais servidores, alguns deles autores de denúncias e causa danos sérios às investigações, segundo informou a delegada Mirângela Maria Batista Leite, chefe da Divisão de Repressão aos Crimes Previdenciários. No Ceará, a chefe de Benefícios do INSS, Elizabeth Leitão, apanhada na Operação Sol Poente, retornou ao trabalho após cumprir alguns dias de prisão temporária. Poucos dias depois, um incêndio na repartição destruiu tudo, inclusive dezenas de documentos que a PF ainda não havia recolhido. Na Paraíba, o retorno de cinco servidores afastados na área de benefícios gerou clima de hostilidade entre colegas, com ameaças e constrangimentos.

Se o servidor investigado ocupar alta função, além da presença física, ele fica com a senha que lhe possibilita continuar operando o sistema até que seja indiciado no processo administrativo, o que pode levar três meses ou mais. "Dá tempo para apagar provas que o incriminem, forjar documentos e até mesmo continuar praticando as fraudes", disse a delegada.

Mirângela conversou esta semana sobre o problema com a corregedora do INSS, Genoveva Freire Coelho, e sugeriu, entre outras medidas, mudanças na lei 8.112, que trata de processos administrativos contra servidores envolvidos em irregularidades. "Pela norma atual, o investigado só é afastado se o órgão provar que sua presença atrapalha o serviço", criticou.

O Ministério da Previdência informou, por meio da assessoria, que o problema foi contornado provisoriamente, até que se encontre solução definitiva, com deslocamento do servidor sob suspeita em fraudes para áreas burocráticas diferentes da que ele atuava. Mas o afastamento definitivo só pode ocorrer quando for concluído o Processo Administrativo Disciplinar (PAD), o que pode durar até um ano ou mais.

A devassa na Previdência vem sendo realizada por uma força tarefa integrada pela PF, INSS e o Ministério Público Federal.

"A Previdência é imbatível em corrupção no setor público. Há quadrilhas em todas as áreas e os valores roubados da Nação são gigantescos", disse a delegada.