Título: Espanha reverencia memória das 191 vítimas do 11 de Março
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2005, Internacional, p. A18

Comissão Islâmica espanhola emite decreto religioso contra Bin Laden, o primeiro no mundo muçulmano MADRI - No primeiro aniversário do ataque mais sangrento no país desde a Guerra Civil (1936-1939), a Espanha reverenciou ontem a memória dos 191 mortos nos atentados a bomba de 11 de março de 2004 com cinco minutos de silêncio e numerosos atos públicos. A cerimônia mais significativa ocorreu no parque El Retiro, onde o rei Juan Carlos, a rainha Sofia e os príncipes de Astúrias, Felipe e Letizia, e o primeiro-ministro José Luis Zapatero inauguraram o Bosque dos Ausentes. Nesse local, foram plantadas 192 oliveiras e ciprestes em homenagem a cada um dos mortos nos atentados e a um policial que morreu três semanas depois na caçada aos terroristas - integrantes de um grupo extremista marroquino vinculado à Al-Qaeda, de Osama bin Laden.

Diante desse quadro, a Comissão Islâmica da Espanha emitiu contra Bin Laden uma fátua, decreto religioso, na qual o condena por prejudicar o Islã com seu apoio a atentados terroristas como o de Madri. É a primeira fatua contra o chefe terrorista em todo o mundo islâmico.

O rei do Marrocos, Mohammed VI, assistiu às solenidades no Bosque dos Ausentos. Com sua presença, expressou pessoalmente o repúdio dos marroquinos ao terrorismo. Também estavam o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e os presidentes Abdelaziz Buteflika, da Argélia; Hamid Karzai, Afeganistão; Pervez Musharraf, Paquistão; e Antonio Sampaio, Portugal, além dos embaixadores dos 16 países que perderam cidadãos nos atentados. A concertista Blanca Cohines, de 17 anos, executou em violoncelo O canto dos Pássaros, de Pablo Casals, encerrando a cerimônia.

A pedido da associação das vítimas não houve discursos. Os atos públicos tiveram início às 7h30, hora em que explodiu a primeira bomba na Estação Atocha. As 650 igrejas católicas de Madri tocaram seus sinos. Foi o ponto de partida para uma série de solenidades que ultrapassaram as fronteiras da Espanha. "O mundo inteiro expressa sua dor e solidariedade aos parentes das vítimas", sintetizou o secretário-geral da ONU, Kofi Annan.

Alvos dos ataques, as estações Atocha, Pozo e Santa Eugênia receberam a visita de milhares de espanhóis que ali acenderam velas e depositaram flores e mensagens. Houve concentrações também na Porta do Sol, no centro da capital espanhola.

Por volta de meio dia, os espanhóis ficaram em silêncio durante cinco minutos. Trens, metrô, ônibus e automóveis pararam.

Os muçulmanos da Espanha dedicaram as tradicionais orações das sextas-feiras às vítimas dos atentados. "O povo espanhol soube distinguir entre a grande maioria dos islâmicos e uns poucos insignificantes que não podemos considerar muçulmanos", disse o imã Munir Mahmud.