Título: Num agrado à Europa, EUA liberam entrada do Irã na OMC
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2005, Internacional, p. A22

Mas Bush reitera advertências ao regime iraniano de que não prossiga na tentativa de ter armas nucleares WASHINGTON - O governo dos EUA abandonou ontem sua política de bloquear a candidatura do Irã à Organização Mundial do Comércio (OMC) para dar um trunfo aos países europeus - França, Alemanha e Grã-Bretanha - que negociam com Teerã a limitação de seu programa nuclear. Ao mesmo tempo, porém, o presidente americano, George W. Bush, renovou as advertências ao regime iraniano, exigindo o fim de sua ambição de obter armas nucleares. "Fico feliz de que estejamos falando com uma só voz ao lado de nossos amigos europeus. Estou ansioso para trabalhar com nossos aliados na Europa para deixar completamente claro ao regime iraquiano que o mundo livre não tolerará que tenham armas nucleares", disse Bush, num discurso feito durante uma rápida visita à Louisiana, no sul dos EUA.

A administração Bush vinha se opondo à aspiração de Teerã de integrar-se à OMC havia vários anos. Nas últimas semanas, embora se dissesse confiante numa solução diplomática, Bush vinha repetindo que nenhuma opção - muito menos a militar - estava descartada para impedir que Teerã obtivesse armas atômicas. Washington cogitou, até mesmo, de intensificar os esforços para forçar uma mudança de regime no país.

"Não negociamos com os iranianos. O que fazemos é apoiar os europeus", declarou o porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher.

"Estudamos que meios poderíamos usar para contribuir com o êxito dos esforços dos três membros da União Européia comprometidos com uma difícil negociação com Teerã", disse, por seu lado, a secretária de Estado americano, Condoleezza Rice. "O Irã não deve tentar usar seu programa nuclear civil para encobrir um programa de armas." Condoleezza disse ainda que os EUA estão dispostos a estudar "caso a caso" o abastecimento de peças de reposição para a aviação civil, que Teerã diz necessitar com urgência.

Na primeira reação oficial ao gesto americano, um representante iraniano nas negociações com a UE sobre a questão nuclear, Sirus Naseri, considerou-o "insignificante" e se negou a fazer mais comentários.

Ontem, especialistas europeus e iranianos mantiveram discretas negociações em Genebra. Os três países europeus lamentaram a falta de progresso nas conversações, mas mantêm a expectativa de prosseguir com as gestões diplomáticas. Ao mesmo tempo, os chanceleres da França, Alemanha e Grã-Bretanha advertiram Teerã que, caso não se chegue a um acordo, apoiarão o envio do caso iraniano ao Conselho de Segurança da ONU.