Título: Após fuga em massa da Febem, cenas de guerra
Autor: José Luís Dacauaziliquá
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2005, Metrópole, p. C1

Tentativa de recapturar 300 internos do Complexo do Tatuapé tumultuou Avenida Celso Garcia; internos roubaram carros Garotos para todos os lados, carros de polícia e uso de gás lacrimogêneo fizeram a Avenida Celso Garcia, na zona leste, parecer um cenário de guerra na noite de anteontem. Tratava-se de uma tentativa de capturar 307 internos do Complexo Tatuapé da Febem - após a maior fuga da história do local e a segunda maior da Febem. A primeira foi em setembro de 1999, no antigo Complexo de Imigrantes, com 644 fugitivos. Os que ficaram deram início a uma rebelião, que durou quatro horas. Foram encaminhados para o Hospital do Tatuapé 39 feridos - 14 menores. Desses, permaneciam internados ontem, com quadro estável, Luciano de Oliveira, de 30 anos; Joni Peres, de 36 anos; e o menor C., de 17 anos, que sofreu uma fratura. Os dois funcionários foram feridos por armas brancas - o primeiro passou por cirurgia no abdome e o segundo, por drenagem torácica.

Mães dos adolescentes contaram que a fuga estava anunciada. Por volta das 17 horas, a Unidade 5 se rebelou. A Tropa de Choque entrou e contornou a situação. Pouco depois, foi a vez de a Unidade 16 iniciar um motim, também controlado. Por volta das 22h30, o tumulto ocorreu na Unidade 12, dos que cometeram crimes graves. Eles saíram dos alojamentos e ganharam o pátio. O portão lateral, na frente da Favela Nelson Cruz, foi arrombado.

Moradores da favela descreveram a cena de formas diferentes. Muitos adolescentes entraram em ônibus. Outros roubaram carros. Policiais militares e civis se uniram na reação, que contou com ajuda de um helicóptero. A todo instante, chegavam carros trazendo internos. Segundo a Febem, 163 foram recapturados.

Um PM afirmou que Champinha (acusado de matar o casal Liana Friedenbach e Felipe Caffé) teve de ser retirado às pressas, para não ser pego pelos internos. Os menores que não conseguiram fugir subiram no telhado, atearam fogo em colchões e fizeram reféns. O Choque entrou à meia-noite. As negociações foram tensas e o motim acabou às 2h30.

Às 17 horas de ontem, na troca de turno, internos da Unidade 7, com jovens de 12 a 15 anos, impediram a saída dos funcionários por meia hora.