Título: Amélia diz que marido é mal interpretado
Autor: SEVERINO CAVALCANTI
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/02/2005, Nacional, p. A10

Ela ressalta que o casal "não tem nada contra homossexuais" .

BRASÍLIA - Amélia, mulher e fiel escudeira do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), acha que o casal está sendo "mal interpretado". Como Severino, ela é contra o casamento de homossexuais, diz que "soa estranho" falar no assunto. Mas faz questão de explicar: "Não temos nada contra os homossexuais, inclusive temos amigos homossexuais maravilhosos." E acrescenta: acha que os gays deveriam ter direito a herança, em caso de morte do parceiro. "É como uma dama de companhia que cuidou de uma senhora idosa, entendo que ela deve ter direito a uma herançazinha." Descrevendo-se como "religiosa e antiga", Amélia acredita que "a instituição casamento é a coisa mais natural do mundo, é a natureza". Quando o assunto é aborto, porém, a sua opinião diverge um pouco da manifestada pelo marido. É, de maneira geral, contra - se considera "a favor da vida" -, mas acha que a Igreja deveria rever a posição nos casos de anencefalia, os bebês que nascem sem cérebro.

Amélia parece preparada para enfrentar as críticas ao marido, embora prefira ignorar os comentários. "A gente dá pouca importância a essas coisas", salientou, argumentando que o estilo franco de Severino dá margem a interpretações maldosas. "Se acham que presença de espírito é ser folclórico, então ele é folclórico", diz, sorridente.

"Severino não deixa ninguém sem resposta", continuou, para enfatizar que o deputado chegou ao cargo máximo da Câmara por esforço e por acreditar em Deus. Amélia contou que o marido não fez curso superior, mas bancou a faculdade para todas as irmãs em São Paulo, para onde se mudou aos 16 anos de idade.

CABO ELEITORAL

Companheira de cinco décadas de Severino, e aliada ao longo de seus 49 anos de atuação política, Amélia esteve presente nos últimos momentos de aflição e glória do marido. Foi personagem de destaque no momento da posse e, fazendo jus à fama, sentou-se ao lado direito do deputado e assistiu ao primeiro discurso como eleito, juntamente com filhos e netos.

"Foi uma vitória linda", conta, orgulhosa, ainda sob o efeito da emoção da disputa que varou a madrugada. Ao lado do filho José Maurício e das duas filhas, Ana Cristina e Catarina, virou cabo eleitoral na terça-feira.

Entre o primeiro e o segundo turno, pegou o telefone e ligou para vários parlamentares de Pernambuco, que teriam votado contra Severino: "Valorize agora o seu Estado."

AGRESTE

Em João Alfredo, cidade natal de Severino, ela é conhecida como Amelinha e o deputado, como Seu Zito. No Recife, é "dona Amélia". Na certidão de nascimento, o composto Catarina Amélia. Desde o namoro, passou a ser somente Amélia, curiosamente o mesmo nome da sogra.

De família de políticos, ela nasceu em Aparecida (SP), onde conheceu Severino - então atacadista de jóias na cidade. Entre namoro e noivado foram dois anos. Depois de casados foram morar em São Paulo.

Na capital, nasceram os quatro filhos. Ela acompanhou o marido de volta a Pernambuco e, ali, mostrou ter política no sangue, embora nunca tivesse disputado um mandato nem ocupado cargo público.

"No Nordeste é mais corpo-a-corpo e o contato com o eleitor é mais direto", afirma, revivendo momentos que passou no agreste. "É ali que se vê como o povo vive e a gente precisa fazer de tudo, até mesmo ser médico."

MÃEZONA

Amélia é uma pessoa simples, bem humorada, falante e gosta de contar casos. "Uma mãezona", atesta a nora Olga.

Na sexta-feira, ela dormiu pela primeira vez na residência oficial. Além de ampla - ela ainda não tinha conseguido andar por todos os cômodos -, a casa é mobiliada e, por isso, só levou objetos pessoais. "Não quero nada de exageros, pois o dinheiro é do País", disse, acrescentando que ainda nem sabe o número de funcionários que terá à disposição.

Na condição de esposa do presidente da Câmara, Amélia acha que terá uma vida mais agitada. Mas não está preocupada com excessos de cerimônias oficiais nem com compromissos formais. Para ela, o que importa é estar ao lado do marido.