Título: Governo manda 50 auditores para vasculhar gestão da saúde no Rio
Autor: Clarissa Thomé
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2005, Nacional, p. A4

Grupo vai avaliar como a prefeitura investiu verbas do SUS nos seis hospitais sob intervenção e checar denúncias de irregularidades RIO - Trinta e dois auditores do Ministério da Saúde chegaram ontem ao Rio para fazer uma varredura na administração de seis hospitais que eram administrados pela prefeitura da cidade antes da intervenção federal - Miguel Couto, Souza Aguiar, de Ipanema, da Lagoa, do Andaraí, e Cardoso Fontes. No total, 50 auditores vão avaliar como a prefeitura do Rio aplicou os recursos do Sistema Único de Saúde (SUS), que reúne verbas federais, estaduais e municipais. "Os auditores vão encontrar o que nós já temos visto no dia-a-dia. Só no Souza Aguiar, dos 52 contratos, somente 4 estavam sendo honrados. Não há insumos, medicamentos, alimentação, segurança. A escala de plantão era fictícia", comentou o secretário de Atenção à Saúde, Jorge Solla.

Dependendo das irregularidades, o Ministério da Saúde pode cobrar a devolução de recursos, abrir processos administrativos ou até acionar o Tribunal de Contas, o Ministério Público e a Justiça - isso em caso de desvios. "Quero ressaltar que não temos indícios de desvio de verbas. Somente o relatório da auditoria vai poder apontar o que ocorreu na gestão dos recursos do SUS", disse Solla.

O secretário já recebeu denúncias de clínicas particulares de hemodiálise que dizem que a prefeitura não pagou pelos tratamentos realizados. Solla diz que esse dinheiro é "praticamente carimbado" - liberado para o pagamento mediante a prestação do serviço.

Auditoria também já encontrou R$ 30 milhões do Fundo Municipal de Saúde numa aplicação financeira. O prefeito Cesar Maia (PFL) explicou que o dinheiro é para ser usado no pagamento de contratos empenhados - o dinheiro foi reservado para pagamento depois que o serviço fosse prestado. "O problema é que ele tem dívidas de 10 meses atrás que não foram honradas", ressaltou Solla.

MUTIRÃO

Sessenta profissionais, entre ortopedistas, anestesistas, instrumentadores e enfermeiros, reuniram-se ontem no Instituto Nacional de Traumato-Ortopedia (Into) para um mutirão de cirurgias ortopédicas. O Ministério da Saúde - um dos alvos quase certos da reforma ministerial - fez questão de dar publicidade à megaoperação e abriu até os centros cirúrgicos para fotógrafos e cinegrafistas.

Alguns pacientes aguardavam por uma operação desde janeiro no Hospital Souza Aguiar e pelo menos um deles corria o risco de ter a perna amputada. No fim da manhã, pacientes foram transferidos do Souza Aguiar e do Miguel Couto para outros hospitais da rede. "Os pacientes correm o risco de ficar com seqüelas, mesmo depois de operados", disse o coordenador da intervenção, Sérgio Côrtes. "Não é que os médicos não quisessem fazer as cirurgias. Faltavam equipamentos, insumos, medicamentos e centros cirúrgicos."

A previsão era de que 31 pacientes seriam operados ontem, mas surgiram quatro emergências. Entre os casos, a menina Kerollyn Gonçalves, de 10 anos, que sofreu fratura exposta no braço ao cair do patinete. Ela passou a noite no Souza Aguiar e foi operada ontem. "Nunca vi tanto médico em hospital público", disse a mãe, Verônica Gonçalves, após a cirurgia.

Os pacientes atendidos no mutirão começaram a ser transferidos na noite de sábado - seis foram operados na madrugada. Um dos pacientes foi alimentado assim que chegou ao Into. Ele estava em jejum havia dois dias porque a cirurgia a que precisava ser submetido foi adiada duas vezes.

Outro recusava-se a ser internado no instituto. "Ele disse que não tinha dinheiro para pagar tratamento. Ele não imaginava que estava em hospital público", contou Sérgio Côrtes.

Os mutirões são rotina no Into. Ano passado foram 13, mas nenhum no domingo. O local é recordista nacional em cirurgias de alta complexidade. Em 2004, foram 5 mil procedimentos - 43% a mais do que em 2003.