Título: Síria diz à ONU que não tira tropas do Líbano antes de abril
Autor: Reuters, AP, AFP e EFE
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2005, Internacional, p. A8

Condoleezza acha anúncio de retirada 'positivo', mas avisa que EUA manterão pressão para saída total BEIRUTE - As forças sírias não se retirarão totalmente do Líbano antes de uma reunião entre comandantes militares dos dois países, na qual serão examinados detalhes do deslocamento de tropas, informou ontem o ministro de Relações Exteriores do Líbano, Mahmud Hamud. Ele não disse quando essa reunião se realizaria, mas uma outra fonte libanesa indicou que o encontro se dará em 7 de abril. Hamud fez a declaração depois de reunir-se com o enviado especial da ONU, Terje Roed-Larsen - que também se reuniu com o presidente do Líbano, Émile Lahoud, para discutir a aplicação da Resolução 1559 do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A resolução, aprovada em setembro por iniciativa dos EUA e da França, exige a saída imediata dos cerca de 15 mil soldados e agentes de inteligência sírios que estão no Líbano desde 1976, uma ano depois do início da guerra civil libanesa.

Larsen viajou ontem para Beirute depois de se encontrar, em Damasco, com o presidente sírio, Bashar Assad, de quem obteve o compromisso de uma retirada por etapas do Líbano. Segundo Assad, na primeira etapa as tropas irão para o Vale do Bekaa, no leste do Líbano, antes de se retirarem para o lado sírio da fronteira na segunda fase, cuja data até o momento se desconhece.

Ao mesmo tempo, manifestações pró e anti-Síria continuavam ontem no Líbano, apesar das advertências de Lahud - que é apoiado pela Síria - de que elas poderiam levar o país ao desastre. Ao protesto de grupos da oposição em Beirute, se contrapôs uma manifestação de dezenas de milhares de ativistas pró-Síria, convocados pelo Hezbollah para a cidade de Nabatieh, no sul do Líbano.

Em entrevista à rede de TV americana ABC, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, qualificou de "positivo" o anúncio de Assad sobre o deslocamento de tropas, mas acrescentou que Washington seguirá mantendo a pressão sobre Damasco para que cumpra a resolução da ONU de retirada total. "Obviamente há vários elementos positivos nisto. Mas esperamos que a retirada seja total, e não somente até a fronteira", declarou Condoleezza.

Larsen disse ter informado às autoridades libanesas o resultado de sua reunião com Assad. "Acho que é possível superar as dificuldades e existem várias opções que podemos adotar para chegar a uma solução", disse o enviado da ONU.

A pressão contra a presença síria no Líbano se intensificou depois do assassinato, em 14 de fevereiro, do ex-primeiro-ministro libanês Rafic Hariri, pelo qual a oposição libanesa culpa o serviço secreto sírio. O objetivo dessas pressões é fazer com que a Síria retire suas tropas antes das eleições parlamentares previstas, para maio.