Título: Ônibus dividem especialistas e passageiros
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2005, Metrópole, p. C5

Apesar da tarifa a R$ 2, corredores, frota renovada e o bilhete único são vantagens

Desde o dia 6, os paulistanos pagam R$ 2 para andar de ônibus. Mesmo com o reajuste, os passageiros ainda reclamam da qualidade do serviço. Superlotação, tempo de espera nos pontos e mau estado da frota são queixas freqüentes. Fica a pergunta: será que vale a pena pagar esse valor? "Peguei um ônibus e 5 minutos depois tive de descer porque ele quebrou. Estão todos caindo aos pedaços", reclama a operadora de caixa Roseana Dias Brito . A promotora de vendas Simone Godoy também não está satisfeita com o transporte coletivo. "Os ônibus demoram demais e vivem cheios. Não temos conforto nenhum", diz. Apesar dos problemas, principalmente nos horários de pico, que ainda são tumultuados, o aposentado César Otaviani pondera. "Com esses novos corredores, a condução melhorou muito."

Para especialistas em transporte público, apesar dos problemas vale a pena andar de ônibus em São Paulo pagando R$ 2. "Os novos corredores reduziram o tempo de viagem, a frota foi renovada e o bilhete único trouxe a gratuidade. Foi um avanço significativo", avalia o consultor em engenharia de tráfego, Horácio Augusto Figueira. No entanto, ele acredita que seria preciso criar pelo menos mais 500 quilômetros de vias exclusivas para ônibus.

" Os motoristas só vão deixar o carro na garagem no dia em que houver um sistema confiável, um bom serviço, com veículos confortáveis, linhas monitoradas, mapas e painéis de informação tanto em pontos quanto em terminais", comenta .

Para o secretário-executivo do Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte (MDT), Emiliano Affonso Neto, é preciso acabar com a lógica de repassar todos os custos para os passageiros. Segundo ele, uma pesquisa divulgada pela Fundação Seade revelou que cidadãos das classes D e E - teoricamente os que mais dependem do serviço - não têm condições de pagar a tarifa. "Para a maioria R$ 2 não é barato e faz falta", afirmou.

LINHAS

A SPTrans aposta na reestruturação das linhas para melhorar a qualidade do transporte coletivo da capital. No fim deste mês, técnicos da companhia devem divulgar um estudo propondo algumas alterações. Mas ainda não há data para que elas entrem em vigor. A SPTrans também promete criar alguns parâmetros de qualidade que deverão ser seguidos à risca pelos consórcios que operam no sistema. O tempo de espera no ponto de ônibus, por exemplo, não poderá exceder um determinado intervalo.

O Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SP-Urbanuss) informou que a tarifa de utilização dos serviços não tem relação com a tarifa de remuneração paga aos operadores. "Tanto isso é fato que, mesmo sem reajuste há dois anos, foram feitos investimentos, como a renovação de 2.300 veículos."