Título: Juro deve ter nova alta na quarta-feira
Autor: Tom Morooka
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2005, Economia, p. B4

Mercado estima uma elevação entre 0,25 e 0,50 ponto porcentual na taxa básica na reunião do Comitê de Política Monetária A decisão do Banco Central sobre o rumo da taxa básica de juros (taxa Selic), na quarta-feira, e a tendência dos juros nos títulos de dez anos do Tesouro americano (Treasuries) serão os principais focos do mercado financeiro nesta semana. O executivo da Tesouraria do Standard Bank, Rodrigo Boulos, comenta que a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do BC, e o comportamento dos juros nos Estados Unidos vão influenciar os diversos mercados domésticos, do dólar aos juros, passando pela Bolsa de São Paulo. O mercado financeiro está convencido de mais uma rodada de reajuste do juro básico, na quarta-feira, mas as apostas estão divididas em relação ao porcentual. Dentre as 46 opiniões levantadas em pesquisa da Agência Estado no mercado, duas apontam para a estabilidade em 18,75% ao ano, 16 em elevação de 0,25 ponto porcentual e 28 em aumento de 0,50 ponto porcentual. Um reajuste de meio ponto, seguindo o prognóstico da maioria, puxaria a taxa básica de juros para 19,25% ao ano, nível mais elevado desde a de 20% ao ano em setembro de 2002.

Boulos diz que, com os sinais de desaceleração da economia e a inflação contida, o Copom poderia manter o juro onde está, mas, como a última ata sugeriu a continuidade do ciclo de alta, o juro primário pode subir 0,25 ponto porcentual na reunião de março. "Mas não seria surpreendente também se o Copom se decidisse por um aumento de 0,50 ponto."

Outro foco do mercado está no cenário externo, aponta o executivo do Standard Bank, referindo-se à deterioração de expectativas provocada pela pressão da alta do petróleo sobre as taxas de juro dos Treasuries, títulos do Tesouro americano. Boulos afirma que as recentes altas do petróleo, que levaram as cotações do barril perto dos níveis históricos, alimentaram uma correção dos juros dos papéis americanos de dez anos.

Ele comenta que os juros dos Treasuries com esse prazo subiram rapidamente de 4,25% ao ano para 4,50%. Uma eventual persistência nessa marcha batida de alta, considerada improvável por Boulos, poderá influenciar negativamente os mercados domésticos. Juros em elevação nos EUA, que tendem a inibir a migração de divisas ao País, seriam um fator de alta do dólar e dos juros e de baixa da bolsa. "O mercado brasileiro está bastante ligado ao que está ocorrendo com os juros nos EUA."

O mercado financeiro doméstico vai acompanhar também uma possível decisão do Tesouro sobre o exercício ou não da opção de recompra do C-Bond, um dos títulos da dívida externa renegociada em 1994. A opção deverá ser feita até amanhã. O executivo do Standard Bank diz que o Tesouro poderia combinar a operação de recompra de C-Bonds com a emissão de novos títulos, os globals. "O mercado externo veria com muito bons olhos essa troca de papéis."

A Resolução n.º 3.280/05, que regulamenta as resoluções do Banco Central que tratam da unificação dos mercados de câmbio de taxas livres e flutuantes e concedem prazo mais elástico para a internalização de dólares dos exportadores, entra em vigor hoje, sem previsão de mudança imediata na tendência das cotações do dólar.