Título: Brasil tenta elevar volume das exportações de carne suína
Autor: Amanda Brum
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2005, Economia, p. B12

País vende para o exterior hoje apenas 20% do que produz, e está fora de mercados como o do Japão Maior exportador de carne bovina do mundo, terceiro produtor de frango e segundo principal exportador da ave, o Brasil ainda engatinha na área de suínos, embora esta seja a carne mais consumida no planeta. Há recentes sinalizações de produtores e frigoríficos brasileiros para reverter o quadro. Afinal, o País reúne todas as condições necessárias para se posicionar entre os países mais importantes nesta área.

A principal alavanca para esta mudança devem ser as exportações, que atualmente não chegam a 20% do total produzido no País. Para efeito de comparação, o setor de frango remete ao exterior quase 30% da produção. Mas a participação do Brasil na pauta de exportações de suínos, segundo especialistas, tende a subir gradualmente nos próximos exercícios fiscais, com uma possível arrancada ainda neste ano, por conta da queda das barreiras da Rússia para esse tipo de carne brasileira. Mesmo com os embargos, aquele país foi responsável por 56,75% das remessas externas de suínos realizadas pelos produtores nacionais em 2004.

Soma-se a este fator a perspectiva de conquista de outros importantes parceiros, como o Japão. O país, de acordo com levantamentos do setor, chega a comprar US$ 2 bilhões em carne de porco por ano, respondendo pela importação de 32% da produção mundial.

O Japão, porém, não compra um grama de suíno brasileiro. A razão é a norma européia, que descarta negócios nesta área com o Brasil e que é seguida pelo gigante asiático. Daí o esforço do governo brasileiro, com o apoio de empresas privadas, em trazer comitivas do Japão para mostrar como são criados os suínos brasileiros e como funciona a política sanitária daqui, na tentativa de finalmente estabelecer parcerias comerciais nesta área.

O setor trabalha para o aumento das vendas para cada um dos 100 países em que a carne suína nacional já é comercializada. Avanços vêm ocorrendo em países como África do Sul, Cingapura, Países Baixos e Ucrânia. Mas é preciso ganhar espaço de importantes rivais no mercado internacional, como a União Européia, o Canadá e os EUA. O presidente da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (Abcs), José Braun, garante que a produção nacional tem potencial para isso. Ele justifica que o País dispõe de condições altamente competitivas, como disponibilidade de grãos, de água, clima favorável, áreas para a criação, além de custo de mão-de-obra competitivo.

Há desafios também para que os negócios engordem em território nacional, já que o consumo per capita de suínos no País é de 12 quilos por ano, abaixo da média internacional, de 15 quilos por ano. Para se ter uma idéia, na Espanha o consumo anual chega a 66 quilos por habitante e na Dinamarca, a 64,2 quilos. Entre os latino-americanos, o principal destaque é o Chile, com consumo de 16,5 quilos por habitante/ano.

Segundo pesquisas do setor, o grande entrave para o crescimento do consumo de suínos no País é cultural. Alguns brasileiros alimentam preconceitos em relação à carne de porco, que, no imaginário popular está relacionada com altas taxas de gordura. A Abcs e as empresas do setor tentam mostrar os benefícios da carne suína, apresentada até mesmo como mais saudável que a do frango, dependendo do corte em questão.

A Sadia é uma que quer explorar melhor o potencial do mercado doméstico. Maior produtora do setor, com 10,2% de participação, segundo dados internos, a companhia também responde pela liderança na pauta de exportações de suínos, com uma fatia de 22,8%. Outras indústrias de peso nessa área são a Perdigão, a Seara e a Avipal, todas com ações negociadas em Bolsa.

Com essas iniciativas, o setor pretende se aproximar dos Estados Unidos, terceiro maior produtor mundial, com um volume de 9 milhões de toneladas, e também da União Européia, vice-líder mundial, mas que vem apresentando trajetória de queda. Em 2004, a produção no Velho Continente não passou de 18 milhões de toneladas, deflagrando uma queda de 1%. A China, líder absoluta desta categoria, segue com folga, produzindo 44,9 milhões de toneladas. O Brasil, por sua vez, apareceu como quarto do ranking, com uma produção de 2,678 milhões de toneladas, praticamente igual às 2,698 milhões de toneladas de 2003. Para este ano, entretanto, as projeções da Abcs apontam para uma expansão de 4,16%, atingindo 2,790 milhões de toneladas, número que tende a chegar a 2,980 milhões de toneladas em 2006.

As taxas de crescimento pouco agressivas são propositais: a idéia é não incorrer no mesmo erro de 2002 e 2003, quando a produção cresceu muito mais do que as demandas interna e externa. Pelas projeções da Abcs, o sacrifício de matrizes à época chegou a 360 mil unidades, na tentativa de driblar a forte retração.