Título: João Paulo pode ser ministro, mas precisa abrir mão de disputar SP
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2005, Nacional, p. A4

Este era o desenho da reforma ministerial do presidente Lula que se fazia ontem. Mas, como o anúncio só sai quinta, ele pode mudar BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu mesmo tirar Humberto Costa do Ministério da Saúde e Amir Lando da Previdência. Para o lugar de Costa, Lula pretende nomear Ciro Gomes, hoje ministro da Integração Nacional, que abriria uma vaga para o PMDB. Os nomes mais cotados para a vaga são o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, e a senadora Roseana Sarney, que trocaria o PFL pelo PMDB. Já o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo (PC do B-SP), um dos nós da reforma, deve dar lugar ao deputado João Paulo Cunha (PT-SP). Roseana é cotada também para o Meio Ambiente - cargo já ocupado pelo irmão, o deputado José Sarney Filho (PV-MA) -, em substituição a Marina Silva (PT), que voltaria para o Senado e disputaria o governo do Acre em 2006. No entanto, o posto é reivindicado também pelo PP, partido que tem 51 deputados e nenhum senador, mas logo passaria a ter uma bancada de quatro, o que melhoraria a situação do governo na Casa.

A vaga de Lando será preenchida pelo vice-líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR). Assessores de Lula informaram ontem que Jucá já recebeu o convite. Disseram, também, que a reforma deve ser fechada até quinta-feira.

A reunião que começou a destravar a reforma política foi realizada na noite de domingo, na Granja do Torto, e avançou pela madrugada. "Não que horas saí de lá, mas era tarde", disse o presidente do PT, José Genoino, que fez parte do seleto grupo de participantes. Além de Lula, todos os os outros que ajudaram a dar um rumo para a reforma ministerial eram ministros de primeira grandeza: Antonio Palocci (Fazenda), José Dirceu (Casa Civil) e Luiz Gushiken (Comunicação de Governo).

Palocci disse a Lula que para o Planejamento quer ter por parceiro o deputado Paulo Bernardo (PT-PR); Dirceu mostrou-se favorável ao deputado Jorge Bittar (PT-RJ). Seja quem for, o substituto do interino Nelson Machado, do PT, que desde novembro reponde pela pasta, será também um petista entrosado com a equipe econômica.

Palocci argumentou em favor de Bernardo. Disse que é um dos parlamentares petistas que mais conhecem o orçamento, que tem trânsito livre em todos os partidos e é excelente negociador. Dirceu fez o mesmo em relação a Bittar. Os dois candidatos já foram relatores da Comissão de Orçamento.

Bittar é do Rio, Estado que não tem ministros, mas na disputa para a prefeitura do Rio, em 2004, ficou em quinto lugar. O Paraná, Estado de Bernardo, também não tem ministro. Bernardo não disputou nenhum cargo no ano passado. Quando Lula montou sua equipe ministerial, o nome de Bernardo apareceu entre os prováveis ministros do Planejamento, mas a escolha contemplou Guido Mantega, hoje presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

COORDENAÇÃO

De acordo com auxiliares de Lula, o ex-presidente da Câmara João Paulo substituirá Aldo Rebelo na Coordenação Política. Mas com a condição de abrir mão da disputa para o governo de São Paulo no ano que vem. Assim, as candidaturas seriam afuniladas entre o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) e a ex-prefeita Marta Suplicy.

Lula comunicou aos presentes que pretendia chamar Rebelo para algum cargo, mas lembrou a todos que, durante almoço na semana passada com o ministro, de quem gosta muito, este comunicou que dispensaria a oferta e deixaria o lugar vago para ajudar na composição com a base.

Ficou decidido que o ministro da Defesa continuará mesmo a ser o vice-presidente José Alencar (PL). Na semana passada, especulou-se que Alencar poderia sair, visto que numa entrevista no Rio, sexta-feira, ele dissera não ter o perfil para o posto. O nome de Rebelo apareceu entre os candidatos.

A situação de Aldo é constrangedora, disseram amigos que o visitaram ontem, no Palácio do Planalto. Nem agenda ele tinha. Como sua função é a de articulador político, e ele sabe que não continuará no cargo, o deputado comunista preferiu não marcar nenhum encontro decisivo. O que viesse a prometer poderia caducar amanhã ou depois, assim que a reforma ministerial for concluída.

Na reunião entre o presidente, Genoino e os integrantes da cúpula ministerial, ficou acertado ainda que os petistas perderão ministérios. Pelo menos dois. "Não estamos preocupados. O PT tem de se preparar para ceder espaço para os aliados", disse Genoino.

Sabe-se que o ministro Olívio Dutra, de Cidades, não sairá. Desde que Lula começou a falar em reforma ministerial, em setembro, o nome de Olívio apareceu em todas as bolsas de especulações dos condenados à degola. O próprio Olívio colecionou as notícias que davam conta de sua saída. Desistiu quando chegou na 40.ª.