Título: Ex-líder de FHC, Jucá está com pé na equipe de Lula
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2005, Nacional, p. A4

Senador é o mais cotado para assumir o Ministério da Previdência, que vai continuar nas mãos do PMDB BRASÍLIA - Escolhido para substituir Amir Lando no Ministério da Previdência, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) vai realizar um fato raro. Depois de ser líder do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) no Senado, Jucá será ministro do governo Lula, o maior opositor do ex-presidente tucano. Jucá foi também da equipe de outro ex-presidente, o hoje senador José Sarney (PMDB-AP). A despeito do sinal verde à nomeação de Jucá, dado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em conversa com a cúpula petista, nem o PMDB nem o futuro ministro receberam qualquer comunicado oficial até o final da tarde de ontem. "Não houve nada oficial", ressaltou Jucá, que é vice-líder do governo no Congresso.

O ex-tucano, considerado "cristão novo" no PMDB, é cria do PFL pernambucano. De aluno de estatística do hoje senador José Jorge (PFL-PE) na Universidade Federal de Pernambuco a governador biônico do território de Roraima, escolhido pelo então presidente Sarney, foi uma longa trajetória nos governos estadual e federal. E até a vice-liderança de Lula, em 2004, Jucá sempre esteve ligado ao grupo de José Jorge e do senador Marco Maciel (PFL-PE) nos últimos 30 anos.

Embora a cúpula do PMDB tenha sido avisada pelo presidente da troca de comando na Previdência e de que Jucá se encaixa bem no perfil de gestor que ele deseja para ministro, os líderes e dirigentes do partido estão insatisfeitos com a demora no anúncio.

PROTESTO

"Está todo mundo desgastado com essa lentidão: os partidos, os líderes, o presidente da República e a própria reforma", protestou ontem o líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), ao lembrar já ter ouvido "umas 500 vezes que fulano está confirmado para tal ministério e na reunião seguinte muda tudo". Ele explica que qualquer movimento implica a demissão de um petista e, diante da enxurrada de pedidos e da pressão do PT sobre Lula, a reforma não anda.

Suassuna está queixoso porque a demora está dificultando seu trabalho na liderança, onde são vários os candidatos a ministro. "Isso é péssimo porque começa a haver divisão nas bancadas, com os senadores achando que estamos protegendo outro, e não estamos."

"Se nós da oposição fôssemos escalados para fazer a reforma, não faríamos melhor, mas faríamos mais rápido", ironizou o vice-líder pefelista no Senado, José Jorge. Certo de que as trocas vão gerar mais insatisfação do que solução no Senado, ele disse que está colocando a lista de todos os ministros no site do PFL. "Já que Lula não consegue decidir, estamos pedindo ao povo que o ajude a escolher quem vai demitir."