Título: José Dirceu ajudou a derrotar candidato tucano
Autor: Ana Paula ScinoccaElizabeth Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2005, Nacional, p. A4

Líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), acusou ministro de "estar passando da conta" BRASÍLIA - A vitória do deputado Rodrigo Garcia, do PFL, sobre o tucano Edson Aparecido, na disputa para a presidência da Assembléia Legislativa de São Paulo, continua a ser reflexo da eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) presidente da Câmara dos Deputados. Na madrugada de 15 de fevereiro, 300 deputados deram seu voto em Severino, causando ao governo Lula a maior derrota de sua história, pois o candidato oficial e do PT era Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). "Vencemos o governador Geraldo Alckmin", bradava o deputado Ricardo Zarattini (PT-SP), um dos mais entusiasmados com a vitória, construída depois de uma aliança dos petistas com o PFL, em São Paulo. "Foi o troco. Eles não nos derrotaram aqui?", continuava Zarattini, sem a menor preocupação com a convivência futura entre governo e oposição.

Ao contrário de Zarattini, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) mostrava-se preocupado. "Não sei onde isso vai dar. Tudo o que acontece nos Estados é reflexo do que houve na Câmara. Ninguém mais respeita a proporcionalidade das bancadas, a indicação dos líderes. Nada. A confusão só vai terminar quando for feita a reforma política e criadas regras claras que obriguem os partidos a obedecer a proporcionalidade", disse Cardozo.

Para o deputado Alberto Goldman (SP), líder do PSDB, é difícil analisar o que ocorreu. Ele lembrou que, na eleição para a presidência da Câmara Municipal de São Paulo, o PT aliou-se a Roberto Trípoli, dissidente do PSDB, para derrotar o candidato oficial Ricardo Montoro, apoiado pelo prefeito José Serra. "Acho que é a revolução dos bichos", disse Goldman.

Líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA) acusou o ministro da Casa Civil, José Dirceu, de ter operado com muito vigor pela derrota do candidato de Alckmin. "O Dirceu está passando da conta", disse Aleluia.

Petistas, como Zarattini, anunciavam para quem quisesse ouvir que realmente o PT se aliara ao PFL. "Mais uma vez tentaram fazer com que parlamentares votassem num candidato sem voto. Deu no que deu", acrescentou Aleluia. "Eu cansei de avisar que o deputado Greenhalgh não tinha votos. Em conseqüência, quem venceu foi o Severino Cavalcanti. Para piorar, a votação em São Paulo foi aberta. Na Câmara dos Deputados foi secreta."

O líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), aproveitou a vitória do candidato de seu partido para dizer que o PT entrou num terreno perigoso. "Depois que perdeu a eleição na Câmara, o PT tem adotado posições heterodoxas e isso não é bom para a democracia. Claro que haverá reflexos. Complica, cada vez mais, a relação entre o governo e os partidos de oposição, que não são respeitados", disse Maia.

Quanto ao PFL, partido que tem aliança com o PSDB tanto no governo de São Paulo quanto na prefeitura da capital, a explicação do comportamento do partido foi dada por um dos dirigentes. Ele acha que a relação de confiança do PFL com o PSDB paulista não foi minada pela disputa de agora, mas na campanha para a eleição municipal. Segundo ele, na campanha de 2004, Gilberto Kassab (PFL), candidato a vice de José Serra, foi muito atacado e os tucanos não fizeram nada para defendê-lo. A intenção do partido ao apoiar Garcia, disse o dirigente do PFL, foi marcar uma posição em favor de Kassab. "E a derrota de Alckmin só ficou clara porque o governador entrou na campanha depois de retornar de uma viagem."