Título: Como Lula e Serra, Alckmin é derrotado no Legislativo
Autor: Ana Paula ScinoccaElizabeth Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2005, Nacional, p. A4

Candidato do governador de São Paulo para assumir a presidência da Assembléia perde para deputado do PFL apoiado pelo PT O governador Geraldo Alckmin (PSDB) sofreu ontem dura derrota ao ver seu candidato à presidência da Assembléia Legislativa ser derrotado. O rebelde Rodrigo Garcia (PFL) derrotou o candidato oficial, o tucano Edson Aparecido, por 2 votos - 48 a 46. Garcia é ligado ao vice-prefeito Gilberto Kassab (PFL), que até ontem cedo garantia a vitória de Aparecido. Na campanha, Garcia evitou o confronto e exaltou todo o tempo a aliança com Alckmin. Mas, para o PSDB, a derrota foi computada como traição do PFL, que é seu aliado desde a eleição de 94 e hoje tem o vice-governador e o vice-prefeito. Sob o impacto da derrota, os tucanos saíram do plenário.

No outro extremo, o PT comemorou o resultado até com festa, organizada à noite na primeira secretaria. Tão logo a eleição foi encerrada, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, ligou para o líder do partido na Assembléia, Cândido Vaccarezza, para festejar a vitória. Os petistas desfilavam felizes pelos corredores da Assembléia.

Vaccarezza disse que o resultado da eleição foi uma derrota pessoal de Alckmin e uma vitória dos parlamentares que querem um Legislativo independente do Executivo. "Alckmin se fez derrotar. Se o governador não tivesse telefonado para os deputados e assumido a articulação (para garantir a vitória de Aparecido), a história hoje poderia ser outra."

Como seus colegas de bancada, Vaccarezza não conseguia disfarçar o sentimento de revanche em relação à derrota na Câmara dos Deputados, há um mês, embora todos negassem que a vitória do pefelista em São Paulo tinha sabor de vingança. Em determinado momento, porém, um petista deixou escapar. "Se o resultado em Brasília fosse outro, a história aqui também seria diferente."

ISOLAMENTO

Em rápida reunião na liderança, o PSDB decidiu recusar cargos na Mesa Diretora. "Abdicamos de qualquer participação na direção da Casa, em função da violência brutal e dos métodos usados nessa disputa", justificou Aparecido. Ele se referia ao isolamento imposto a deputados que apoiavam Garcia nos últimos quatro dias, num hotel de Atibaia, a 60 quilômetros de São Paulo. Logo antes da votação pelo menos 20 parlamentares chegaram juntos, de ônibus, vindos diretamente de Atibaia.

Emocionado, Aparecido procurou poupar Alckmin. "A derrota foi minha e da bancada do PSDB, que me escolheu candidato", disse ele, que comunicou o resultado ao governador num breve telefonema. "Alckmin falou que agora é hora de trabalhar. Bola pra frente", comentou.

Assim como outros líderes governistas, Aparecido não tinha dúvida de que o resultado provocará uma fissura nas relações do PSDB com o PFL. "Espero que os deputados da base que deixaram de votar com o governo tenham a postura correta e ética de entregar seus cargos", frisou. Além de cargos de confiança, o PFL tem as Secretarias da Justiça e dos Esportes.

VALORIZAÇÃO

Como nos últimos dias, Garcia disse que a sua vitória valorizará o PFL na composição do governo. "Vou continuar apoiando o governador", insistiu.

Mas um tucano próximo a Alckmin disse apostar que na recomposição da base aliada haverá uma reforma administrativa. Amigo do governador, o líder do PTB, Campos Machado, deixou o plenário consternado. "A derrota atingiu o coração do governador. Essas pessoas que agora riem amanhã estarão no Bandeirantes, de quatro e com o pires na mão."

O também governista Arnaldo Jardim (PPS) acha que o governo paulista será outro a partir de agora. "É evidente que o episódio de hoje produzirá uma nova realidade política."