Título: João Paulo só assume pasta se tiver mais poder
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2005, Nacional, p. A5

BRASÍLIA - O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) aceita ser ministro da Coordenação Política, mas quer algumas contrapartidas. Diz que precisa de instrumentos que lhe dêem mais condições de trabalho do que foram dadas a Aldo Rebelo, o ministro que deve deixar o cargo. João Paulo quer ter uma caneta na mão, com poderes para demitir e nomear. As exigências do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que João Paulo desista de concorrer ao governo do Estado, em 2006, deixando que a disputa seja travada somente entre o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), e a ex-prefeita Marta Suplicy, não incomodam o ex-presidente da Câmara. "O presidente nomeia e demite. Não precisa fazer exigências a quem vai convidar", afirmou ontem João Paulo.

Para ele, o mais importante é o poder do seu instrumental de trabalho. Aldo Rebelo, por exemplo, negociava e prometia, mas na hora de cumprir a palavra empenhada, dependia da boa vontade da equipe econômica para a liberação, por exemplo, das verbas orçamentárias para pequenas obras, previstas nas emendas de parlamentares. Nessa situação, fazia jornada dupla. Primeiro, negociava com os parlamentares e os partidos. Em seguida, tinha de correr para os ministérios da área econômica para defender o atendimento aos pedidos de deputados e senadores.

Se vier a ser confirmado no cargo de coordenador político do governo, João Paulo terá um trabalho a mais do que Aldo Rebelo.

Ele sabe disso.

"Quem assumir o cargo de articulador do governo no Congresso terá de negociar os acordos do governo e do PT com os líderes partidários em todos os Estados, já visando a formação da aliança que apoiará a candidatura à reeleição do presidente Lula", afirma.

Essa função, entende Lula e os ministros do núcleo mais próximo do presidente, não poderia ser de forma alguma exercida por Aldo Rebelo, que é do PC do B. Pergunta um destes ministros: "Como é que alguém, de um partido majoritário, pode falar em nome, por exemplo, do PT? Como esse negociador vai resolver um problema com um partido aliado se não pertence ao partido do governo, que é majoritário na Câmara? E como vai ministrar um acordo em nome de terceiros?" Para o presidente do PT, José Genoino, a reforma não vai alterar os rumos do governo, vai arrumar a agenda. "O que está em jogo é a continuidade de um projeto geral, para cumprirmos a agenda do governo e votarmos a continuidade das reformas tributária e da Previdência no Congresso", diz.