Título: Para aliados do prefeito, intervenção é política
Autor: Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2005, Nacional, p. A8

BRASÍLIA - Aliados do prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, não têm dúvidas em afirmar que foi política a decisão do governo federal de intervir nos hospitais municipais da cidade. Para o líder do PFL na Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, filho do prefeito, foi uma reação do governo ao fato de César Maia ter começado a ocupar o tempo de inserções políticas do PFL no rádio e TV praticamente lançando sua candidatura presidencial em oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Rodrigo também responsabiliza o ministro da Casa Civil, José Dirceu, pela decisão de deflagrar a intervenção. "O governo sabe que existem pesquisas mostrando o crescimento de César Maia na corrida presidencial", afirmou Rodrigo Maia, acrescentando: "O ministro José Dirceu reassumiu a coordenação política do governo e decidiu politizar essa discussão pensando na eleição de 2006."

Dentro do governo, aliados do presidente Lula admitem que a intervenção provoca desgaste político num adversário com potencial para se tornar um candidato forte na eleição presidencial. Entre os petistas, Maia é visto também como um possível nome para ocupar a vice-presidência numa eventual chapa encabeçada pelo PSDB, especialmente com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Segundo esses petistas, a intervenção e todo o material jornalístico certamente será utilizado numa campanha eleitoral contra Maia, caso seja candidato.

Mas acham também que o governo preferiu com a ação fazer mais um movimento afirmativo, de apresentar um bom desempenho do que de apenas queimar a imagem de César Maia. Esses petistas lembram que o noticiário da intervenção ocupou o lugar de manchetes notícias negativas, como as da fala inoportuna de Lula dizendo que encobrira caso de corrupção.

Rodrigo Maia estranhou que o governo tenha decidido apenas agora fazer a intervenção. Afirma que seu pai tinha pedido ao governo que retomasse o controle dos hospitais municipais. E estranhou que o governo só decidisse fazer isso nesse momento. "O problema da Saúde do Rio é de falta de financiamento e de falta de repasse de recursos da União", afirmou. Rodrigo Maia também critica o comportamento do ministro da Saúde, Humberto Costa, usando cadeia nacional para falar sobre o assunto. "Talvez ele esteja tentando se manter no cargo fazendo um movimento desse tipo", disse.

Mais cauteloso, o prefeito César Maia manteve sua posição de afirmar que a intervenção na saúde municipal era uma medida pedida pela prefeitura ao governo e não quis fazer associação política na decisão do governo de intervir. "Acho que não houve um gesto político, pois era isso que eu vinha pedindo há dois anos. Fizeram o que já deveriam ter feito desde que os notifiquei extrajudicialmente", diz o prefeito.

No sábado, o presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), também não teve dúvidas em afirmar que o ministro da Saúde, Humberto Costa, procurava "inventar calamidade" nos hospitais da rede municipal do Rio de Janeiro para tentar se credenciar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já que pode ser demitido logo. Para Bornhausen, é o "canto do cisne e o grito de desespero" de Costa.