Título: Na festa pela democracia, senadores prestam homenagem a Sarney
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2005, Nacional, p. A7

Ex-presidente, que deixou o governo com baixos índices de popularidade, foi a figura central da sessão solene de ontem BRASÍLIA - Os 20 anos de redemocratização foram lembrados ontem no Senado, nos discursos emocionados do ex-presidente da República, senador José Sarney (PMDB-AP), e de parlamentares que tiveram papel destacado nesse período. Sarney disse que aproveitaria a ocasião para matar saudades e fazer uma reminiscência, antes de se dirigir aos presentes chamando-os de "brasileiros e brasileiras", como fazia quando presidente. Sarney falou dos êxitos e das frustrações como dirigente do País, sempre destacando a importância de Tancredo Neves, eleito pelo colégio eleitoral que, impossibilitado de assumir, terminou fazendo de seu vice o presidente.

Morto em 1985, o presidente Tancredo foi representado na sessão por seu neto, o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), e por seu sobrinho, deputado Francisco Dornelles (PP-RJ). "Ele (Tancredo) repetia sempre: 'Sou um conciliador, só não transijo com os princípios. Não há penitência sem dor e não há política sem princípios'", afirmou Sarney, que fez uma espécie de mea culpa. Disse que havia se preparado para ser um vice fraco de um presidente forte, que não compôs seus ministério e nem conhecia o programa de governo que iria executar.

Sua capacidade de conciliação foi elogiada por vários senadores. Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) disse que a reação do último presidente militar, João Baptista Figueiredo, de não querer dar posse a Sarney "era puro capricho de derrotado". Ele chamou a atenção para a presença no plenário do general Leônidas Pires Gonçalves, mais tarde nomeado ministro do Exército de Sarney. "Foi ele, o jovem jurista militar que, em meio a uma reunião, apontando a Constituição, disse que Sarney tomaria posse como vice-presidente."

Para o senador Pedro Simon (PMDB-RS), sua geração, "vitoriosa na missão de consolidar a democracia no País sem o derramamento de sangue, tem ainda de resgatar a dívida social brasileira".

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que o objetivo da sessão é o de manter vivo na memória de todos os fatos que levaram à redemocratização, "para que não voltemos a pagar o preço de nossos próprios erros." Para Marco Maciel (PFL-PE), o País tem o "regime democrático mais bem-sucedido do mundo".

A maior parte dos senadores petistas não participou da sessão. Único deles a discursar, o líder do bloco governista, Delcídio Amaral (MS), elogiou a atuação de Sarney, "que teve de substituir o mito Tancredo Neves e afastou definitivamente o fantasma do retrocesso".