Título: Senado faz festa para 20 anos da redemocratização
Autor: Ariosto Teixeira
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2005, Nacional, p. A10

ACM, que teve papel importante na consolidação da candidatura de Tancredo, que o nomeou ministro, preside trabalhos BRASÍLIA - Um dos expoentes civis da ditadura militar, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) foi escolhido para abrir com um discurso a sessão especial do Senado, hoje à tarde, convocada para celebrar o aniversário de 20 anos da redemocratização do País. O critério adotado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), na elaboração da lista oficial de oradores, foi a participação dos atuais senadores no governo do ex-presidente José Sarney, que tomou posse em 15 de março de 1985, no lugar de Tancredo Neves. A primeira lista divulgada pela mesa do Senado pareceu "injusta" a alguns senadores, que procuraram Renan com uma reclamação: os oradores eram todos representantes dos dissidentes do regime, que fundaram a Frente Liberal e compuseram a Aliança Democrática com o PMDB de Tancredo. Além de ACM, os listados eram os senadores Marco Maciel (PFL-PE) e Jorge Bornhausen (PFL-SC) e o próprio Sarney, autor do requerimento para que se fizesse a sessão comemorativa.

O grande ausente na lista, observaram, era obviamente Pedro Simon (PMDB-RS), o último dos representantes no Senado do núcleo que lutou pela redemocratização ao lado de Ulysses Guimarães, Mário Covas, Franco Montoro, Teotônio Vilela e Tancredo. O lapso foi corrigido antes que o próprio Simon protestasse. O senador gaúcho será o segundo a discursar.

O senador ACM teve, porém, papel importante para a consolidação da candidatura de Tancredo Neves, e isso o credenciaria a participar da celebração, no entender dos mesmos senadores que exigiram a inclusão de Simon na lista. Ele sequer pertencia à dissidência do PDS, o partido que dava sustentação civil ao regime, e que indicara Sarney como vice na chapa de Tancredo. ACM entrou para a história da redemocratização com um ato que caracteriza o seu estilo, uma frase bombástica em resposta ao discurso do então ministro da Aeronáutica, brigadeiro Délio Jardim de Mattos, na inauguração do Aeroporto de Salvador, chamando os dissidentes de "traidores".

"Na mesma hora dei uma resposta violenta", lembrou ACM em entrevista para o portal do Senado na Internet. "Disse que eu não era traidor e muito menos corrupto, porque corruptos eram aqueles que apoiava um corrupto para presidente da República." Ele se referia a Paulo Maluf, o candidato do PDS e do presidente João Figueiredo, o último dos generais, a quem o brigadeiro defendia.

O ex-presidente Sarney, em torno do qual se farão as homenagens, diz hoje que "ninguém tinha noção do que iria acontecer" no dia da posse. Lembra que às 3h da madrugada recebeu do general Leônidas Pires Gonçalves a notícia de que teria de assumir no lugar do presidente eleito. 'Temíamos todos que pudesse haver um retrocesso, porque ninguém esperava que a tragédia da doença de Tancredo pudesse ocorrer", disse, também ao portal do Senado, lembrando as últimas palavras do general ao se despedir: "Boa noite, presidente".

A sessão especial do Senado e uma missa em ação de graças na Catedral Metropolitana de Brasília, a ser oficiada pelo cardeal d. José Freire Falcão, são os únicos atos programados para comemorar a transmissão pacífica do poder dos militares aos civis, a fato político mais importante da história recente do Brasil. Entre os convidados, confirmaram presença o ex-presidente Itamar Franco, atual embaixador na Itália, alguns ministros do governo Lula, além de embaixadores de vários países. Todos os governadores foram convidados, mas nenhum confirmou comparecimento, nem mesmo o neto de Tancredo e atual governador de Minas Gerais, Aécio Neves.