Título: Hildebrando é condenado a 25 anos
Autor: Vasconcelo Quadros
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2005, Nacional, p. A9

Ex-deputado, que já cumpre 37 anos de prisão por outros crimes, foi considerado culpado por homicídio de um policial do Acre BRASÍLIA - O ex-deputado Hildebrando Pascoal foi condenado ontem a 25 anos e seis meses de reclusão, em regime fechado, como mandante do assassinato do policial Walter José Ayala, morto em Rio Branco, no Acre, em setembro de 1997, na véspera de um suposto depoimento que prestaria a um organismo de direitos humanos do Acre. Hildebrando já cumpre 37 anos de prisão por tráfico de drogas e crime eleitoral. Ele está preso desde que foi cassado, em 1999. Essa foi sua primeira condenação por homicídios supostamente praticados pelo esquadrão que o ex-deputado é acusado de chefiar.

A juíza Maria de Fátima da Costa, da 10ª Vara da Justiça Federal de Brasília, ao ler a sentença, afirmou que o ex-deputado "tem personalidade voltada para o crime, é audacioso, despreza a vida humana e, ao chefiar um grupo que matava utilizando métodos cruéis, aterrorizava a população do Acre". Ele ouviu calado.

Mais tarde, em entrevista, Hildebrando evitou polemizar. "Acato a decisão do júri popular, mas não pude me defender. Tenho informações para explicar porque fui cassado e preso. São fatos relacionados à Câmara dos Deputados e ao Acre", declarou, sem revelar quais seriam tais fatos.

Durante os sete dias de julgamento, Hildebrando só demonstrou irritação quando terminou o debate entre acusação e defesa. O ex-deputado reclamou da atuação dos advogados que contratara: "Não tive defesa, excelência!", disse, levantando os punhos algemados e se dirigindo à juíza. Antes da sentença ser pronunciada, disse que não queria mais falar com os advogados e reclamou, em voz alta, que havia consumido "uma fortuna" em honorários.

MOTOSSERRA

"O problema é que essas histórias de ter trucidado pessoas com motosserra influenciaram os jurados. Os detalhes macabros funcionam como agravante. Essa pecha ele vai carregar", disse o advogado e ex-juiz federal Pedro Paulo Castelo Branco Coelho, que atuou na defesa do ex-deputado.

O advogado tentou livrar Hildebrando com a tese de negativa de autoria, mas acabou exagerando nas críticas contra a vítima e contra as testemunhas de acusação. Os jurados negaram todas as pretensões da defesa.

"A sentença fez justiça ao povo do Acre e às vítimas de Hildebrando", comemorou o procurador Pedro Taques, que conseguiu emplacar todas as teses de acusação: homicídio qualificado com motivo torpe, sem dar chances de defesa à vítima e executado para garantir a impunidade do grupo.

A principal estratégia dos procuradores foi a utilização da lei de proteção a testemunhas para rachar o grupo e vincular Hildebrando Pascoal ao assassinato de Ayala