Título: Agricultores queimam carro em protesto no RS
Autor: Elder Ogliari
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2005, Nacional, p. A10

Manifestações contra seca incluíram bloqueio do Palácio Piratini PORTO ALEGRE - Manifestantes que pediam recursos dos governos estadual e federal para as famílias prejudicadas pela estiagem no Rio Grande do Sul incendiaram um veículo da RBS TV, em Sarandi, e trancaram a porta do Palácio Piratini durante a maior parte do dia, ontem. Ao mesmo tempo, houve bloqueio à passagem de veículos em meia pista da RS-126, em Sananduva, e concentração e caminhada de 5 mil pessoas pelas ruas centrais de Passo Fundo. Os agricultores exigiam perdão para parte de suas dívidas, prorrogação do prazo do pagamento da outra parte e ajuda financeira, a fundo perdido, até a colheita das culturas de inverno, como trigo e cevada.

O protesto mais radical foi o da Via Campesina, reunindo o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e o Movimento dos Sem-Terra (MST) em Sarandi, no noroeste do Rio Grande do Sul.

O grupo manteve a BR-386 bloqueada desde a tarde de segunda-feira, forçando os motoristas a buscar desvios de até 70 quilômetros por estradas vicinais da região. Durante a manhã, quatro homens não identificados, que estavam entre os manifestantes, queimaram o veículo e a câmera de uma equipe da RBS TV.

Em seu depoimento à polícia, o cinegrafista Éverton Machado disse que estava gravando imagens quando seu equipamento foi tomado por quatro homens encapuzados e jogado no carro em chamas. Ele e o repórter Leonel Lacerda não sofreram ferimentos.

Um dos coordenadores da Via Campesina, Plínio Simas, ressaltou que não há confirmação de que os homens fossem manifestantes vinculados às organizações camponesas.

Em Porto Alegre, 800 agricultores se colocaram diante do Palácio Piratini ao amanhecer e só saíram quando o governador Germano Rigotto recebeu as reivindicações de uma comissão de agricultores. A entrada principal do prédio e o tráfego da Rua Duque de Caxias só foram liberados às 15h30.

Os agricultores, ligados à Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf) pediram a liberação de R$ 100 milhões para socorrer famílias atingidas pela estiagem. Rigotto prometeu estudar alguma forma de apoio, além dos R$ 8 milhões já anunciados para a construção de redes de água.

VISITA

As manifestações antecedem a visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz ao Estado hoje e também chamam a atenção para a continuidade do problema causado pela estiagem. A chuva de domingo melhorou a situação, mas não há condições para a retomada de atividades como a criação de aves e suínos e nem como repor as safras de verão, que já estavam perdidas, deixando prejuízos estimados em R$ 4,4 bilhões na agricultura e em R$ 18,6 bilhões em toda a cadeia do agronegócio.