Título: Tarso rebate pesquisa e defende cotas
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2005, Nacional, p. A10

Segundo ministro, há poucos negros nos melhores cursos das universidades públicas BRASÍLIA - O Ministério da Educação decidiu responder ontem aos dados parcial e confusamente divulgados de uma pesquisa sobre renda e raça de alunos nas universidades federais. Levantados por pesquisa preparada pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), os dados acabaram sendo divulgados em meio à confusão e boatos na última segunda-feira, fornecendo argumentos a críticos dos programas de cotas. Munidos de dados de raça e renda apurados nos últimos anos pelo Exame Nacional de Cursos (o antigo provão), o MEC saiu ontem em defesa da proposta que reserva de vagas. "Nos melhores cursos não há uma correspondência entre o porcentual da população afrodescendente e a presença nos cursos", disse o ministro da Educação, Tarso Genro. "Se o resultado estivesse correto e a política fosse desnecessária, não haveria por que barrá-la, porque não haveria problemas de qualidade como dizem os críticos."

O estudo que originou toda a polêmica mostra que há ainda um número significativo de jovens egressos de escolas públicas nas universidades federais. Seriam 46,2%, somados os que estudaram todo o tempo e os que estudaram parcialmente em escolas públicas. Outros 53% viriam de escolas particulares. O levantamento feito com 33 mil alunos das federais, definiu ainda que 42,8% dos estudantes teriam renda até três salários mínimos. Não há desdobramento por cursos, por isso não é possível saber se essa proporção se mantém mesmo nos mais concorridos, como o de medicina.

Munidos de dados levantados no perfil socioeconômico feito pelo Provão, o presidente do Instituto Nacional de Estatísticas e Pesquisas em Educação (Inep), Eliezer Pacheco, contesta a análise e os dados da pesquisa. "Nós trabalhamos com um universo muito maior de alunos e não encontramos isso", afirmou. Os números, na verdade, são muito próximos nas duas pesquisas. Mas, alega Eliezer, são muito distantes da realidade nacional. "Apenas 42% dos estudantes das universidades federais têm renda até 3,5 salários mínimos, mas na sociedade em geral 70% está nessa faixa. "Essa divulgação levou a conclusões distorcidas e reforça uma postura elitista."

Financiado pelo MEC, o estudo deveria ter sido divulgado na segunda-feira no próprio ministério. No entanto, a divulgação foi suspensa por ordem de Tarso Genro. A informação do ministério é que ninguém foi avisado dessa divulgação nem teve acesso à pesquisa para analisá-la e respondê-la.

A Andifes, que seria responsável pela pesquisa, também informa que não foi avisada da divulgação e divulgou uma nota ontem na qual afirma que: "A divulgação da pesquisa, precipitada e estranhamente restrita a alguns órgãos da imprensa e feita sem a participação da Andifes, prejudicou um debate que pretendemos, como de hábito, seja amplamente estendido a todos os setores da sociedade".