Título: Empresários condenam projeto de Lula
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2005, Nacional, p. A10

Os empresários declararam guerra à reforma sindical. Concentrados em São Paulo, durante mais de 3 horas, os principais industriais do País e os dirigentes das mais influentes e poderosas entidades da categoria condenaram o projeto de Lula e celebraram um pacto para "atuação conjunta e sintonizada junto ao Congresso". Eles planejam derrubar dispositivos que consideram "preocupantes e nocivos à harmonia das relações do trabalho". Exigem que a reforma sindical seja debatida simultaneamente à trabalhista - que o governo ainda nem enviou à Câmara -, caso contrário ameaçam boicotar sua tramitação.

"Temos um desafio enorme", declarou Jorge Gerdau, do Grupo Gerdau, que conclamou seus pares à grande empreitada. "Pela minha experiência, posso dizer que no mundo quem fez concessões erradas fechou as portas em nível de empresas, em nível de setores. A mobilização do empresariado no Congresso deve ser maior do que nunca porque essa é uma matéria com tendências eleitorais populistas. Temos a responsabilidade de construir uma empresa brasileira competitiva no cenário mundial. Está nas nossas mãos."

A reação dos empresários foi deflagrada na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Aderiram ao movimento as 27 federações industriais - das quais 12 mandaram seus presidentes à reunião - e a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que abrange 1.016 sindicatos patronais. Armando Monteiro Neto, presidente da CNI, afirmou que "alguns pontos que não haviam sido objeto de discussão foram unilateralmente incluídos no texto que o governo encaminhou ao Congresso".

"Reforma é para melhorar, simplificar, fazer com que todos entendam", advertiu Antonio Ermírio de Moraes, do Grupo Votorantim. "Tem de ser coisa simples para que todos entendam e possamos ter melhores desempenhos do ponto de vista industrial."

Os empresários indicam como "pontos críticos" a representatividade derivada, o contrato coletivo nacional, a substituição processual, a representação no local de trabalho e a arbitragem da Justiça do Trabalho. Para eles, a proposta do governo necessita de ajustes - "abrir espaço para a negociação coletiva com segurança jurídica, propiciar condições para a gestão ágil e flexível exigida pela competição globalizada e diminuir a geração de conflitos".

Roberto Ferraiuolo, diretor do Departamento Sindical da Fiesp, avalia que o projeto "fortalece a parte profissional em detrimento da parte patronal". Segundo ele, a proposta "leva a uma centralização brutal de poder na mão do Estado e a uma interferência do poder estatal na área sindical".