Título: A grande causa de uma geração
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2005, Nacional, p. A12

A grande causa da minha geração não foi a da estabilização da economia. Nem tampouco a do desenvolvimento econômico. Foi a da democracia. De novo, não são excludentes. Mas há que lhes dar, a cada momento, seu peso relativo. Por isso, para mim, a história contemporânea da política brasileira começa com as lutas dos anos 70, pela volta à democracia, sonhada por muitos como se fosse a inauguração de uma sociedade, dando nome às coisas, socialista.

Dos guerrilheiros de todo tipo aos democratas liberais, da luta pela anistia ao renascimento da sociedade civil com suas ONGs persistentes, dos fóruns do Teatro Casa Grande a SBPC, OAB, CNBB, das greves de Osasco e do ABC à campanha pelas Diretas-Já, de tudo isso junto e contraditoriamente, surgiu um horizonte democrático.

O cerco ao regime autoritário, sua transformação interna (a abertura "lenta, gradual e segura"; o surgimento de figuras de relevo, vindas do movimento de 64, que passaram a apoiar a redemocratização, como Teotônio Villela, Severo Gomes, o general Euler Bentes Monteiro), o redescobrimento dos canais partidários que deixariam de ser a "oposição consentida", como diziam do MDB, para ser a oposição de verdade, tudo isso marca a antecâmara de novo Brasil. O resultado de tudo foi a eleição de Tancredo, a transferência pacífica do poder a um governo civil e a convocação da Assembléia Nacional Constituinte.

Fernando Henrique Cardoso foi presidente de 1995 a 2002