Título: Mercado eleva juro antes do Copom
Autor: Márcia De Chiara e Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2005, Economia, p. B1

Os juros subiram para os consumidores e as empresas antes mesmo de o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciar uma nova elevação da taxa básica, a Selic, decisão que deverá ser tomada amanhã. Duas pesquisas divulgadas ontem revelam que as taxas aumentaram de forma generalizada em fevereiro e março e tanto as instituições financeiras como as lojas desistiram de absorver a alta da Selic sem repassá-la aos tomadores de empréstimos. A Selic está hoje em 18,75% ao ano e desde setembro de 2004 não pára de subir.

Pesquisa da Fundação Procon de São Paulo, feita nos dias 7 e 8 deste mês com dez bancos, constata que os juros médios cobrados nos empréstimos pessoais está hoje em 5,34% ao mês, ante 5,25% em fevereiro. Essa é a maior taxa média nessa modalidade de crédito registrada desde fevereiro do ano passado.

No cheque especial, os encargos financeiros também aumentaram, segundo o Procon-SP. A média dos juros para a mesma amostra de bancos passou de 8,12% ao mês em fevereiro para 8,19% em março.

"A diferença dessa pesquisa em relação às anteriores é que a alta está mais generalizada entre as instituições financeiras", observa a diretora de Estudos e Pesquisas do Procon-SP, Cláudia Costa. No empréstimo pessoal, por exemplo, seis instituições aumentaram os juros, uma cortou e três mantiveram. No cheque especial, metade dos bancos elevou e a outra metade manteve. "Não há intenção de cortar juros."

Essa tendência altista é confirmada pela pesquisa da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). De acordo com o levantamento, das seis linhas de crédito ao consumidor pesquisadas, todas registraram elevação nas taxas de janeiro para fevereiro. Na média, os juros, que estavam em 7,59% ao mês em janeiro, ou 140,58% ao ano, atingiram 7,79% ao mês em fevereiro, ou 146% ao ano.

Todas as quatro linhas de financiamentos voltados para empresas também tiveram os encargos elevados de janeiro para fevereiro. Na média, os juros subiram de 4,49% ao mês ou 69,39% ao ano em janeiro para 4,66% ao mês ou 72,73% ao ano em fevereiro.

"Desde outubro de 2004, todas as linhas de crédito não subiam juntas para a pessoa física. No caso das empresas, esse movimento não ocorria desde novembro do ano passado", ressalta o vice-presidente da Anefac, Miguel Ribeiro de Oliveira.

Ele observa que o aumento das taxas anuais tanto para consumidores como empresas ocorrido no mês passado superou de longe a alta da Selic. Enquanto a taxa básica aumentou 0,50 ponto porcentual ao ano, de 18,25% em janeiro para 18,75% em fevereiro, os encargos financeiros do crédito ao consumidores tiveram alta de 5,42 pontos porcentuais no período. No caso dos empréstimos às empresas, o aumento anual da taxa foi de 3,34 pontos porcentuais.

"As taxas subiram por conta do pessimismo das últimas atas do Copom", diz Oliveira. Isso fez com que o mercado interpretasse que os juros não iriam parar de subir tão cedo, como anteriormente previsto. Em janeiro, os bancos imaginavam que o período de alta da Selic tinha chegado ao fim, mas houve uma mudança no sinal", diz.

A grande dúvida do mercado em relação à decisão sobre a Selic que será tomada amanhã pelo Copom é saber, no entanto, se os juros vão subir 0,5 ponto porcentual de uma só vez ou vão aumentar 0,25 ponto porcentual agora e outro tanto abril. De toda forma, é consenso no mercado que a Selic deve parar de subir quando atingir os 19,25% e começar a recuar a partir do segundo semestre.