Título: Frigorífico demite e culpa o real forte
Autor: Patrícia Campos Mello, Rita Tavares, André Palhano
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2005, Economia, p. B3

Frigoalta também se queixa de retenção de recursos de exportação no Banco Santos ARAÇATUBA - A redução das exportações, causada pela queda do dólar, foi a justificativa do Frigoalta para demitir 5% dos funcionários e a suspender investimentos de US$ 5,5 milhões este ano. Um dos 5 maiores frigoríficos do País, com 3,3 mil funcionários em 6 unidades em Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo, o Frigoalta demitiu 170 trabalhadores, deu férias coletivas a outros 200 e reduziu turnos de trabalho para frear os custos. Desde dezembro, sua situação é de insolvência, com títulos protestados e atraso de salários.

A crise se agravou porque parte das reservas em dólar da empresa - que podem chegar a US$ 4 milhões - ficou retida no Banco Santos após a intervenção. Para complicar, o Frigoalta não conseguiu captar no mercado os recursos previstos para manter as exportações e o fluxo de caixa.

A maioria dos frigoríficos brasileiros banca as exportações com financiamentos externos a 8% de juros ao ano, por meio de contratos de Adiantamentos de Câmbio ou de Exportação (ACCs ou ACEs). Com o mercado interno a juros de 3% ao mês, a maioria das empresas optou por continuar exportando mesmo com a queda do dólar, o que não ocorreu com o Frigoalta.

De acordo com o diretor de Exportação do Frigoalta, Marco Garcia, a situação, que esteve pior em janeiro, está se normalizando. O que houve, segundo ele, foi uma falha na avaliação do comportamento do câmbio. "Decidimos pisar no freio num momento em que tínhamos de continuar com as exportações", declarou.

As exportações caíram para 40% no início de janeiro, de US$ 12 milhões mensais para US$ 4,8 milhões. "Recuperamos boa parte e hoje estamos com 85% da nossa capacidade de exportação."

Mas o investimento em uma nova fábrica em Votuporanga (SP), de US$ 5,5 milhões, teve de ser suspenso. "Não temos como manter esse investimento enquanto não concluirmos nossos ajustes para voltar a crescer", diz Garcia.

As demissões no Frigoalta surpreenderam o setor, cujas exportações cresceram 29% em janeiro e 24,5% em fevereiro. "Acredito que se trata de um problema pontual porque o mercado interno é que está pior que o externo", diz Hélio Toledo, do Sindicato das Indústrias Frigoríficas do Estado de São Paulo.