Título: A civilização olmeca divide os arqueólogos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2005, Vida&, p. A15

Para muitos, ela foi a mãe das culturas do México e da América Central, mas sua influência ainda é controversa NOVA YORK - Os olmecas viveram em uma sociedade de complexidade emergente. Foi mais de 3 mil anos atrás, ao longo do Golfo do México, perto de Veracruz. Mobilizados por ditadores ambiciosos e fortificados por um panteão de deuses, eles moveram uma verdadeira montanha de terra para criar um platô sobre o planalto. E lá plantaram uma cidade, cujas ruínas são conhecidas hoje como San Lorenzo. Deixaram para trás restos do palácio, potes diferentes e arte com motivos de jaguar antropomórfico. Mais impressionantes eram as esculturas olmecas: cabeças de pedra colossais com lábios grossos e olhos vidrados. Os olmecas são vistos como criadores da primeira civilização na Mesoamérica, uma área que abrange a maior parte do México e da América Central. E uma fonte cultural das sociedades recentes, especialmente a maia. Alguns acadêmicos acham que a civilização olmeca foi a primeira em qualquer parte da América, embora algumas dúvidas tenham sido lançadas sobre essa teoria por causa de descobertas recentes no Peru.

Os arqueólogos ficaram divididos em relação a quanta influência os olmecas tiveram nas culturas mesoamericanas subseqüentes e contemporâneas. Seriam os olmecas a cultura-mãe? Ou estavam entre as culturas-irmãs, cujas interações através da região produziram atributos compartilhados de religião, arte, estrutura política e sociedade hierarquica? No mês passado, a polêmica foi revivida por Jeffrey P. Blomster, arqueólogo da Universidade de George Washington. Em texto publicado na revista Science, ele e outros pesquisadores descreveram evidências da ampla exportação de cerâmicas olmecas que eles disseram apoiar "prioridade olmeca na criação e na dispersão do primeiro estilo unificado sistema iconográfico na Mesoamérica".

Os pesquisadores de Blomster analisaram a química de 725 peças de potes decorados com símbolos e desenhos no estilo olmeca, coletados na região. Compararam a composição das cerâmicas com os barros locais. Determinaram que a maior parte não era imitações do estilo olmeca feitos por ceramistas locais. Em um número significativo de potes, o barro combinava com a química do material encontrado ao redor de San Lorenzo. "As evidências são impressionantes de que San Lorenzo, a primeira capital olmeca, estava fazendo a exportação", disse Blomster. "Os olmecas estavam disseminando sua cultura e era de grande interesse para as outras."

A cidade no platô artificial parecia ser o pilar da cultura regional e fundamental, disse ele, para entender a origem e o desenvolvimento da sociedade complexa na Mesoamérica.

Richard A. Diehl, da Universidade do Alabama, escreveu na Science que as descobertas fornecem apoio poderoso à escola da cultura-mãe. "San Lorenzo, portanto, dominava nas relações comerciais e ajudava a espalhar os sistemas de iconografia e das crenças olmecas." Mas, diz Diehl, as "conexões não devem ter durado mais do que uma geração, talvez o tempo de um ditador em especial e, no máximo, não mais do que um século ou um século e meio".