Título: Países criam fundo para diminuir a divisão tecnológica
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2005, Economia, p. B4

Governos vão criar mecanismos para ajudar a reduzir abismo existente hoje

GENEBRA - Enquanto o governo de Luiz Inácio Lula da Silva se esforça para tentar transformar em realidade seu projeto de um fundo mundial contra a fome, um grupo de países africanos e europeus lançou ontem mais um fundo internacional. Desta vez, o objetivo é financiar projetos de tecnologia da informação para ajudar os países menos desenvolvidos e evitar uma divisão ainda maior no mundo entre aqueles que têm acesso às tecnologias e uma imensa parcela da população sem nenhum contato com telefones, celulares e muito menos internet. Segundo os organizadores do fundo, o governo Lula foi informado da iniciativa, mas até o momento está dando apenas "apoio verbal" ao projeto. Em um artigo publicado ontem no jornal suíço Le Temps, Cristian Ferrazino, um dos fundadores da iniciativa e atual conselheiro administrativo de Genebra, afirma que a iniciativa contra a fome de Lula "tem dificuldades de se materializar".

Na América Latina, a cidade de Curitiba está entre as fundadoras do projeto, mas a cerimônia de lançamento do fundo não contou sequer com um diplomata ou representante do governo brasileiro.

A idéia é de que o recurso para esse fundo seja arrecadado por meio de vários mecanismos estabelecidos pelos governos. Uma das formas será a contribuição voluntária de governos, empresas e entidades que queiram doar recursos para projetos de desenvolvimento da tecnologia em países pobres. Outra iniciativa é a de incluir em toda licitação pública relacionada à tecnologia da informação uma exigência de que as empresas que queiram participar da concorrência que destinem 1% do valor do contrato ao fundo internacional.

A cidade de Curitiba, por exemplo, em uma licitação para a compra de computadores, poderia incluir no edital tal condição. Os mais pessimistas alertam para o risco de que as empresas apenas repassem esse custo extra ao preço final de seus equipamentos aos consumidores, que no final seriam os verdadeiros contribuintes do fundo internacional.

Em seu lançamento, o mecanismo já conta com 5 milhões. A idéia é de que 60% das verbas sejam destinadas aos países menos desenvolvidos. Já 30% iria para países emergentes, ainda que o Brasil tenha indicado na ONU que não pretende pedir para se beneficiar dos recursos. 10% do dinheiro ainda iria para economias em transição e mesmo para países desenvolvidos. Senegal, Suíça, França, Marrocos, República Dominicana e Nigéria, além de cidades como Genebra, Paris e Roma também fazem parte da iniciativa.

Segundo as estatísticas desse grupo de governos, 75% dos internautas hoje no mundo estão concentrados em apenas 15% da população do planeta. "Em outras palavras, mais de 80% dos seres humanos não contam com o acesso, pelos métodos modernos, às informações e conhecimentos acumulados pela humanidade", afirmam os fundadores.