Título: PF vai interrogar Daniel Dantas e Carla Cicco
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2005, Economia, p. B11

O sócio do Opportunity e a presidente do Grupo Brasil Telecom são acusados de espionagem ilegal

BRASÍLIA - Uma equipe do Departamento de Inteligência da Polícia Federal (DIP) está desde ontem no Rio de Janeiro para interrogar o sócio controlador do Grupo Opportunity, Daniel Dantas, e a presidente do Grupo Brasil Telecom, Carla Cicco, acusados de espionagem ilegal contra concorrentes empresariais e autoridades federais. A PF já teria elementos para indiciar os dois também por formação de quadrilha e corrupção ativa, mas a formalização da denúncia estaria sendo retardada por razões táticas. Os policiais acreditam haver uma rede de cúmplices envolvida em atividades ilegais no mercado de telecomunicações do País.

As investigações constataram que Dantas e Carla contrataram a empresa de auditoria Kroll para espionar a empresa de telefonia Telecom Itália, que disputa judicialmente com Dantas o controle da Brasil Telecom. Os espiões Tiago Verdial, português, e William Peter Goodal, o Bill, agente inglês aposentado do serviço inglês MI-6, também devem ser indiciados no inquérito.

As investigações começaram em outubro e entram agora na reta final. Até ontem, já haviam sido indiciados 12 funcionários públicos, inclusive da Polícia Federal, da Receita Federal e do Banco Central. Eles teriam colaborado com os espiões fornecendo documentos e informações protegidas por sigilo legal, como extratos bancários e dados fiscais.

A descoberta da rede de espionagem se deu no curso das apurações que a PF fazia, desde o início de 2004, sobre a falência da indústria alimentícia Parmalat. As investigações chegaram rapidamente ao nome da Kroll. Durante a Operação Chacal, em outubro, a PF apreendeu computadores, disquetes e mais de uma tonelada de documentos na sede da Kroll, em São Paulo, e nas instalações do Grupo Opportunity, no Rio.

A análise do material revelou que a espionagem atingiu também integrantes do primeiro escalão do governo Lula, entre os quais o ministro da Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken, e o presidente do Banco do Brasil na época, Cássio Casseb. Conforme apurou a inteligência da PF, o principal alvo da espionagem era o empresário Luis Roberto Demarco, dirigente da Telecom Itália, desafeto de Dantas.

Apesar das evidências, o Grupo Opportunity nega qualquer vínculo com o contrato de espionagem, assinado junto à Kroll pela Brasil Telecom.