Título: 'Se demorar, Varig pode definhar'
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2005, Economia - Negócios, p. B19

Em entrevista ao Estado, vice-presidente e ministro da Defesa diz que solução para tirar a companhia aérea da crise depende dela mesma BRASÍLIA - O vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, acredita que a Varig precisa encontrar uma solução para sua crise financeira o mais rápido possível, para não sofrer o mesmo "processo de definhamento" pelo qual passou a Vasp. Essa solução, porém, não passa pela ajuda do governo, segundo indicou, em entrevista ao Estado. "É um assunto deles e eles é que têm de negociar", avisou. Ele se diz convencido que a melhor solução para a Varig é sua venda. Com isso, Alencar recuou de suas tentativas de encontrar outras soluções para a crise da empresa. Ele se alinhou ao discurso da área econômica do governo, que defende uma solução de mercado e é contra qualquer interferência federal.

Desde que assumiu o Ministério da Defesa, em novembro, o vice-presidente chamou para si a solução da crise da Varig, que se arrasta há anos. Até então, as discussões sobre o tema estavam trancadas a sete chaves no gabinete do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, sem que houvesse informações exatas sobre o que estava sendo discutido, embora se falasse na internacionalização da empresa, transferindo as linhas internas para as demais companhias aéreas brasileiras, inclusive as pequenas.

Alencar, ao passar a administrar a questão da Varig no governo, deu maior transparência às negociações, comunicando cada passo a ser dado. Ele tentou várias alternativas, que foram sendo descartadas no processo. A primeira foi uma intervenção federal, logo deixada de lado.

Depois, batalhou para incluir as aéreas na lei de falências, numa tentativa de garantir a elas a possibilidade de uma recuperação judicial. No entanto, essa opção naufragou quando o Ministério da Fazenda vetou o pedido do Unibanco de parcelar as dívidas da Varig por 35 anos.

Alencar também defendeu um encontro de contas entre a União e as aéreas, mas essa solução não conta com o apoio da área econômica e tampouco dos advogados do governo. Seria um encontro entre as dívidas que a empresa tem com órgãos federais e uma indenização que ela pleiteia na Justiça, por perdas impostas pelos planos econômicos. Mesmo derrotados no Superior Tribunal de Justiça (STJ), os advogados do governo querem levar a questão ao Supremo Tribunal Federal (STF). A seguir, os principais trechos da entrevista do vice-presidente.

Deputados e senadores pediram a intervenção na empresa. É um bom caminho?

Eles estiveram no meu gabinete e sugeriram a intervenção da companhia. Não acho um bom caminho. O melhor caminho é a venda da companhia para um grupo que tenha condições econômicas, financeiras e morais. Isso é o que o poder concedente vai avaliar para confirmar uma concessão. Nós não podemos entrar na negociação. A negociação é um assunto deles. Eles é que têm de negociar e todos sabem que eles contrataram o serviço do Unibanco, da Trevisan e do Arnold Wald.

E há interessados, já que a dívida é enorme?

Eles falam que há vários e eu acredito que, havendo vários, alguma coisa será encontrada já, já.

A solução tem de vir o mais rápido possível, não é?

É, mas a solução tem de ser da empresa. Até mesmo o enquadramento na nova lei de falências, para uma recuperação judicial, é coisa para ser feita pela empresa. Não é o governo que faz isso. A nossa economia é de mercado. Nós vivemos o regime de livre iniciativa. As empresas não são estatais. O governo é poder concedente, mas isso não significa ser o responsável pela operação da companhia. Mas, é claro que eu vou receber a proposta, como falei com eles (representantes da Varig), e vou levar ao exame do governo como um todo, imediatamente. Mas a solução é deles. Eles falaram que esta semana vão entregar uma proposta.

Há alguma preocupação com o fato de a empresa estar agonizando?

Aconteceu com a Vasp um processo de definhamento. Se não houver nada rápido, pode acontecer com a Varig o que aconteceu com a Vasp.

Isso significa que a Varig pode acabar como a Vasp?

Estou dizendo que a solução para a empresa é dela. Não é do governo. E que, do jeito que está, se demorar, ela pode definhar.