Título: Em dois anos, somem dois Sergipes de verde na Amazônia
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2005, Vida &, p. A16

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse ontem que o índice de desmatamento no Brasil em 2004 será semelhante ao de 2003 e deverá se situar entre 23 mil e 24 mil quilômetros quadrados. Essa área equivale ao Estado de Sergipe. Os números estão sendo compilados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e, caso se confirmem, colocarão o governo Luiz Inácio Lula da Silva à frente do anterior em matéria de destruição florestal. A média de desmatamento dos dois últimos anos do governo Fernando Henrique Cardoso (2001/2002), que já era considerada alta, ficou em 20.695 km2. A medição compreende o período de agosto de um ano a agosto do ano seguinte. A previsão de Marina deixa a média do atual governo em 23.300 km2, na melhor hipótese, e 23.800 mil km2, na pior, já que em 2003 a área desmatada foi de 23.750 km2. O aumento do índice de desmatamento, portanto, será de 15% no melhor cenário.

A ministra considerou o dado muito elevado, mas ressalvou que ele decorre de uma cultura ambiental perversa, praticada há décadas no País. Ela garantiu, porém, que o conjunto de medidas adotadas pelo governo desde o ano passado está no rumo certo para reverter o quadro em 2005. "As medidas estão sendo implementadas a todo vapor. A nossa expectativa é de queda significativa no desmatamento este ano", disse Marina.

A maior parte da destruição florestal ocorre no chamado arco do desflorestamento, que pressiona a Amazônia de leste a oeste, passando por sete Estados, desde o Acre até o Maranhão. A partir dessa linha, os agentes de destruição abriram uma nova frente na chamada Terra do Meio, no Pará, onde foi morta recentemente a freira Dorothy Stang.

Segundo Marina, o ministério montou nessa e em outras áreas sensíveis uma gigantesca estrutura de combate ao desmatamento. Parte dela é um sistema de informações em tempo real para monitorar a dinâmica do desmatamento, o que permite o deslocamento de equipes de fiscalização para o local.

ESTATÍSTICA

As estimativas sobre áreas desmatadas divulgadas até agora para o período 2003/2004 não podem ainda ser comparadas aos índices anuais oficiais registrados pelo Inpe desde 1997. A razão é que os dados preliminares são baseados em imagens obtidas pelo satélite Modis, com resolução de 250 metros, e os oficiais, pelo satélite Landsat, com resolução de 30 metros. "O Modis oferece apenas um indicativo. O valor final deve ficar por volta disso, mas não temos como dizer se vai variar para baixo ou para cima", disse o coordenador do Programa Amazônia no Inpe, Dalton Valeriano. O cálculo final, segundo ele, deve ficar pronto no fim do mês.