Título: Comércio inicia ano com alta de 6,24% nas vendas
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2005, Economia, p. B3

As vendas do comércio mostraram fôlego em janeiro e cresceram 6,24% em volume, na comparação com o mesmo mês de 2004. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é o melhor desempenho apurado no primeiro mês do ano desde 2001. Em receita, foi 12,96% superior ao de janeiro de 2004. Para o economista Adriano Pitoli, da consultoria Tendências, o resultado indica que a projeção para este ano é de manutenção do crescimento, como reflexo da recuperação econômica e da reação do emprego e da renda. "As vendas mostram trajetória dentro do desejável até porque a manutenção de um crescimento muito forte poderia gerar pressão inflacionária." Para 2005, a Tendências projeta crescimento de 4,5% no desempenho do comércio.

De acordo com o Instituto para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), "o resultado de janeiro de 2005 dá seqüência à tendência dos últimos meses, os quais, exceto dezembro de 2004, quando o comércio atingiu desempenho extremamente positivo, vêm apresentando expansões menos intensas, sinalizando desaceleração e acomodação do crescimento do comércio varejista". Segundo Pitoli, no resultado dessazonalizado, comparando janeiro a dezembro, houve queda de 2,4%. "Depois que o comércio saiu do poço, com taxas de crescimento muito grandes em 2004, é natural que o crescimento seja mais lento."

Em dezembro do ano passado, as vendas do comércio subiram 11,42% ante mesmo mês de 2003. O pesquisador do IBGE, Reinaldo Silva Pereira, diz que a base de comparação de 2004 é muito alta, levando-se em conta que os resultados do ano anterior, quando o desempenho foi 3,7% negativo, foram fracos. "A economia mais estável deu um planejamento melhor às famílias, especialmente para os bens de consumo duráveis", afirma Pereira.

O maior acesso ao crédito fez com que o destaque mais positivo do comércio fosse o resultado dos bens duráveis. Em especial, as vendas de móveis e eletrodomésticos, que cresceram 19,59% em janeiro, comparadas com o mesmo mês de 2004, mas ficaram abaixo dos 23,77% de dezembro. O resultado de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo foi 6,33% maior, mas ficou abaixo da média e é quase metade dos 12,31% verificados em dezembro.

O maior destaque negativo foram as vendas de combustíveis e lubrificantes, que recuaram 1,07% em janeiro, ante igual mês de 2004. O empresário Lauro Domecq, de 56 anos, reduziu seus gastos com gasolina em até 8%. Na sua empresa, a queda foi de 50%. "Tento evitar viagens supérfluas e procuro evitar o consumo de combustível, palavra que na minha empresa virou palavrão."

A única maneira que a estilista Juliana Ribeiro, de 27 anos, encontrou para reduzir seus gastos com combustível foi procurar postos com preços mais em conta. "Não posso reduzir o uso do carro, mas sempre procuro pela gasolina mais barata." Em São Paulo, a queda de 2,98% no consumo de combustíveis impediu crescimento maior do comércio (5,16%). No Rio, o recuo das vendas de combustível foi ainda maior, de 5,73%, o que influenciou o resultado das vendas do varejo (1,30%). Os dois Estados respondem por quase a metade do desempenho do comércio.

Pela primeira vez o IBGE divulgou o resultado das vendas do comércio ampliado, que cresceram 7,4%. Esse resultado inclui as vendas de veículos e motocicletas e de materiais de construção. Só o desempenho de carros e motocicletas cresceu 18,34% em janeiro, em relação ao mesmo mês do ano passado. Apesar dessa expansão, o diretor-executivo da Abraciclo, entidade que reúne as montadoras de motos, Moacyr Alberto Paes, diz que a produção caiu 2,8% porque algumas empresas concederam férias coletivas.