Título: Juro brasileiro dispara no ranking
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2005, Economia, p. B4

O Brasil está cada vez mais distante dos demais países no ranking dos maiores juros reais (resultado da taxa básica menos a inflação projetada para os próximos 12 meses) do mundo. Com o último aumento promovido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na taxa Selic, para 18,75% ao ano, o índice brasileiro subiu para 12,3% - bem longe do segundo lugar, a Turquia, com 6,7%. Segundo cálculos da GRC Visão, a diferença poderá ser ampliada hoje com a decisão do Copom. Se o aumento for de 0,75 ponto porcentual, o juro real do Brasil poderá atingir 13% ao ano - quase o dobro do índice atual da Turquia. No caso de 0,5 ponto de elevação, o juro real subiria para 12,7%; e se for 0,25 ponto, 12,5%. Os cálculos consideram IPCA de 5,77% projetado para 2005.

No mercado, a aposta predominante é de aumento de 0,5 ponto porcentual na taxa Selic, que não pára de subir desde setembro de 2004. Com isso, as projeções para os juros futuros fecharam em alta na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) ontem. O prêmio do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI), com vencimento em janeiro de 2006, o mais negociado no mercado, ficou em 18,84% ao ano ante 18,79% do dia anterior. Em janeiro, esse contrato era negociado em 17,92%.

A grande dúvida no momento é se essa será a última elevação dos juros e o fim do ciclo de aperto monetário. Mas as incertezas do cenário externo podem jogar um balde d'água fria no mercado. Ontem, por exemplo, os juros dos bônus do Tesouro americano fecharam mais uma vez em alta, refletindo o temor de que a política monetária por lá ganhe um tom mais conservador.

A alta do petróleo também poderá pesar na decisão do Copom hoje. O barril negociado em Nova York fechou ontem em alta de 0,18%, em US$ 55,05.

ATIVIDADE ECONÔMICA

Desde setembro, a taxa Selic já subiu 2,75 pontos porcentuais, de 16% para 18,75%. "Apesar disso, a atividade econômica tem demonstrado força para superar as dificuldades de fomento", argumenta o economista e gerente de produtos da GRC, Alexsandro Agostini Barbosa. Segundo ele, os últimos aumentos da Selic ainda não tiveram efeitos sobre o consumo.

Uma das explicações é a expansão dos empréstimos com desconto em folha de pagamento - com juros bem inferiores aos de linhas tradicionais de crédito. Além disso, o volume de exportação continua bastante elevado, argumenta Barbosa.

Mas ele alerta que juros reais tão elevados acabam inibindo investimentos. "Enquanto na Índia e China os investimentos representam quase 25% do PIB (Produto Interno Bruto), no Brasil esse número não ultrapassa 18%. Se tivermos, neste ano, crescimento econômico de 3,5%, poderemos ter problemas futuros de energia elétrica, por exemplo", avalia o economista da GRC.

Ele afirma também que a Turquia, segunda colocada no ranking dos juros reais, tem uma política muito mais eficiente que o Brasil. Em 2004, conseguiu reduzir para 19,1% uma taxa de juros que em 2003 era de 42,9%. A inflação caiu de 30,2% para 9,3%. No Brasil, a situação tem sido bem diferente. Depois de fazer várias reduções no início do ano passado, o Banco Central mudou a direção e voltou a elevar a Selic. Hoje o País tem a maior taxa de juros do mundo, acima até de Venezuela (17,5% ao ano), que no mês passado estava na liderança do ranking. A Turquia, cuja taxa básica está em 16,7%, ocupa a terceira colocação entre os maiores juros do mundo.