Título: Em Brasília, Força Sindical comanda protestos
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2005, Economia, p. B4

A costureira Lourdes Bento, de Mauá (SP), conseguiu três dias de folga da fabricante de roupas masculinas Garbo SA para integrar a caravana de sindicalistas que protesta contra a escalada da taxa de juros no País e seu impacto sobre os empregos. Organizada pela Força Sindical, a manifestação levou cerca de 250 militantes a seguirem, em uma passeata na noite de ontem, até o Banco Central, com velas de sete dias nas mãos. Dentro do edifício, o Comitê de Política Monetária (Copom) iniciava as discussões sobre os juros. Para hoje, quando os diretores do BC devem divulgar o porcentual de aumento, Lourdes e cerca de 500 companheiros vão preparar uma sardinhada diante do prédio de vidro negro. "As empresas pagam juros muito altos, que dificultam os empregos. Na empresa onde trabalho, tive colegas e parentes demitidos por causa dos juros e da concorrência com as roupas que vêm da China", afirmou Lourdes, que milita há 13 anos no Sindicato das Costureiras de São Paulo e Osasco.

A manifestação reuniu principalmente dirigentes dos sindicatos dos trabalhadores no comércio, da alimentação e das indústrias da borracha, metalúrgica e da construção civil filiados à Força.

Oito ônibus chegaram segunda-feira à Esplanada dos Ministérios, em Brasília, provenientes de São Paulo e de Curitiba. Boa parte dos militantes passou as duas últimas noites em barracas cedidas pelos sindicatos, montadas no canteiro central da Esplanada, bem em frente ao Ministério da Fazenda.

Hoje, mais 250 sindicalistas da CGT deverão engrossar o protesto e dividir os 100 quilos de sardinhas (comprados a R$ 3,90 o quilo) que serão preparados em frente ao BC. O protesto será encerrado apenas às 18 horas, com uma missa no acampamento.

"Não esperava que o presidente (Luiz Inácio Lula da Silva) ia seguir com esses juros tão altos. Infelizmente, ele vem mantendo a mesma política do Fernando Henrique Cardoso. Mas ainda tenho esperanças", afirmou José João da Silva, metalúrgico, dirigente sindical, pernambucano migrado a São Paulo e com sobrenome Silva, assim como o presidente da República. "Nós decidimos fazer pressão contra os juros altos porque não estão afetando só o setor metalúrgico, mas todos os outros também", completou ele, que é diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região.

Funcionário da fabricante de filtros para automóveis Tecfil, de Guarulhos, há sete anos, Silva comentou a preocupação com o futuro dos postos de trabalho na empresa, que demitiu 35 de seus colegas sexta-feira. Para ele, o ano começou mal.

Aposentado há cinco anos, Abel de Carvalho, diretor do Sindicato da Alimentação do Estado de São Paulo, adicionou a MP 232, a carga tributária e a guerra fiscal entre as suas razões para participar dos protestos da Força Sindical em Brasília. Encarregado de almoxarifado por 32 anos na Nestlé, Carvalho lembrou que, somados à taxa de juros elevada, esses fatores estão influenciando na diminuição do emprego no setor e na transferência de indústrias para o interior de São Paulo e para outros Estados. "Nós estamos aqui pela indústria também. Temos de defender os empregos dos brasileiros", afirmou, ao lado de seus colegas.