Título: Mercado futuro de dólar cresceu 28% só este ano
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2005, Economia, p. B5

A média diária de contratos de dólar futuro negociados na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) cresceu 28% neste ano. O volume diário pulou de US$ 4,8 bilhões para US$ 6,2 bilhões. Para Renato Diniz Junqueira, vice-presidente da BM&F, o crescimento se deve ao aumento da procura por proteção cambial (hedge). Mas fontes do mercado afirmam que os negócios com dólar futuro incharam por causa da forte entrada de investidores estrangeiros, tirando proveito dos altos juros brasileiros. Essa enxurrada de contratos de venda de dólar futuro estava pressionando o real para cima.

No mercado futuro de dólar, compradores e vendedores fecham contratos para negociar a moeda numa data futura, com valor previamente determinado. A estratégia serve para proteger empresas do risco da variação cambial, mas também é usada por especuladores que querem ganhar dinheiro com as oscilações do mercado.

Uma empresa que precisa honrar uma dívida em dólar daqui a um ano, por exemplo, quer se proteger contra a alta da moeda. Então, faz um contrato futuro na bolsa, travando um valor de cotação para que possa comprar os dólares na data prevista, sem ser surpreendido com as variações cambiais.

Dessa forma, evita que uma forte alta da moeda nesse período faça crescer sua dívida além da sua capacidade de pagamento. Assim, assume a posição de hedger, protegendo-se das oscilações da moeda.

Na outra ponta do contrato, alguém assume o risco de vender os dólares por uma cotação fechada previamente. Nesse caso, o vendedor espera que a cotação da moeda caia. Assim, poderá comprar pelo valor mais baixo e vender pelo preço estipulado no contrato.

Para alguns analistas, o grande volume do mercado futuro de câmbio vem acentuando as oscilações da moeda. Segundo Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria Integrada, o mercado de câmbio futuro aumenta o risco de especulação e volatilidade da moeda.

Mas ele não é a causa da volatilidade ou da valorização do real. "A causa principal é o juro", diz. Os investidores estão apostando no real atraídos pela alta taxa de juros do País, em comparação com os juros pagos por títulos americanos, os Treasuries.

É verdade que, com o mercado futuro bastante líquido, facilita-se a entrada dos especuladores, que podem entrar e sair rapidamente. Mas Loyola usa uma comparação: "Se você tem uma estrada esburacada, os carros vão andar a 80 km/h. Em uma estrada nova, vão andar a 120 km/h e pode haver mais acidentes. Mas isso não significa que estradas novas são responsáveis por mais acidentes"

Mas agora a tendência de valorização do real foi revertida, diz Julio Callegari, economista do banco JP Morgan, porque houve redução da entrada de investidores estrangeiros. "Houve uma alta dos Treasuries, redução do apetite dos estrangeiros pelo real e, ao mesmo tempo, o BC continua comprando dólares no mercado" , diz Callegari.