Título: Novo fundo do BNDES divide as centrais de trabalhadores
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2005, Economia, p. B6

A proposta do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de criar um fundo de ações que permita o uso de recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) acentuou ainda mais a divisão entre as duas maiores centrais sindicais do País. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) é contra e a Força Sindical, a favor. "O que eles desejam, já há um bom tempo, é meter a mão no dinheiro do nosso FGTS para financiar outras questões que não os investimentos em infra-estrutura e a política habitacional", afirma o presidente da CUT, Luiz Marinho.

Seu colega da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, pensa de forma diferente. "Sempre defendemos que o trabalhador pudesse utilizar os recursos do FGTS para investimentos, porque o rendimento dele é menor do que o da poupança. É o dinheiro mais barato do mundo", diz o sindicalista.

Para presidente da CUT, a característica do FGTS não sugere que ele seja usado de outra forma. Além de ser um pecúlio que substituiu a antiga Lei da Estabilidade, em 1966, o Fundo tem como um de seus principais objetivos baratear o financiamento de projetos de saneamento básico e da política de habitação no País.

"Enquanto houver carência nessas áreas, o dinheiro do FGTS tem de ser preservado, para não se sacrificar o conjunto da sociedade em favor de interesses individuais. Mas podemos discutir a possibilidade de liberar uma pequena parcela para o trabalhador decidir individualmente aplicar no fundo de ações", diz Marinho.

"Eu fui o primeiro a aplicar meu FGTS em ações da Petrobrás e estou muito satisfeito com os resultados", diz o presidente da Força Sindical. O trabalhador que, como Paulinho, usou 50% de seu FGTS para comprar ações da companhia em agosto de 2000 obteve rentabilidade de 328% até agora, em fundos administrados pela Caixa Econômica Federal. Os 50% que ficaram na conta do FGTS renderam apenas 29, 47% nesse mesmo período.

Nos fundos de investimentos em ações da Vale do Rio Doce, administrados também pela Caixa, o rendimento atingiu 415,38%, desde março de 2002, quando foram lançados. Já a remuneração do FGTS ficou em 19,40%. O novo fundo teria rentabilidade mínima igual à da caderneta de poupança. "Assim que o BNDES liberar, vamos ser os primeiros a incentivar o trabalhador a aplicar o FGTS nesse fundo", diz Paulinho.

Apesar das diferenças, Marinho pretende convencer a bancada dos trabalhadores a ter uma posição única no Conselho Curador do FGTS, composto por representantes dos trabalhadores, empresários e governo.