Título: País perde 13% da safra todo ano
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2005, Economia, p. B7

Um parcela de 13% da safra brasileira de grãos (soja, milho, arroz, feijão e trigo) é perdida a cada ano. Este porcentual pode ser deduzido de dois novos estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com metodologia inédita no País, sobre as perdas nos períodos pré-colheita e pós-colheita. O desperdício total deve ser ainda maior, já que as estimativas do IBGE excluem as perdas na colheita e no varejo. "A maior parte das perdas é nas estradas", diz Julio Cesar Perruso, gerente de Análise e Planejamento do IBGE. Mais de 60% das cargas brasileiras de agronegócio são transportadas por rodovias, meio de transporte que só é o mais eficiente para distâncias de até 300 quilômetros. Um trabalho da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) mostra que o prejuízo com os grãos derramados no transporte por caminhões atinge R$ 2,7 bilhões em cada safra, ou 10 milhões de toneladas.

O primeiro estudo do IBGE revela que de 1996 a 2002, na fase da cultura que abrange o plantio e a pré-colheita, o Brasil deixou de colher 28 milhões de toneladas daqueles cinco produtos, ou 4,7% do total da safra. Já entre 1997 e 2003, de acordo com o segundo estudo (cujo objetivo principal é calcular a disponibilidade interna daqueles produtos), a perda na fase pós-colheita foi estimada em 53,5 milhões de toneladas, ou 8,8% do total.

Tanto na pré como na pós-colheita, o milho foi responsável pela maior parte das perdas - 54% e 46% respectivamente, com índice médio de perda de 6,05% na pré-colheita e de 9,75% na pós. Segundo o IBGE, a cultura do milho "ainda está carecendo de mais atenção da pesquisa tecnológica, bem como de maiores investimentos na produção".

Já a soja teve perda média de apenas 2,55% na pré-colheita, o que "indica forte convergência de investimentos e de aprimoramento tecnológico da sua produção". Na fase pós-colheita, porém, as perdas se mantêm em 7% - 3,45 milhões de toneladas em 51,48 milhões em 2003. O IBGE aponta o mau estado das estradas, o acondicionamento inadequado do produto nas carretas e a armazenagem no limite da capacidade, em razão dos sucessivos recordes de produção.

No caso do arroz, a perda de cerca de 1 milhão de toneladas por safra é praticamente equivalente ao volume do produto importado pelo Brasil a cada ano para garantir o consumo interno. As perdas na fase pré-colheita do trigo, a maior parte por problemas climáticos, chegaram a 813 mil toneladas, ou 32% do total, em 2000. O feijão também tem sofrido grandes perdas na pré-colheita, que atingiram 16,83% em 1998, ou 443,4 mil toneladas.

SÃO PAULO

A Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp) prevê prejuízo de cerca de R$ 300 milhões com as perdas pós-colheita na última safra. "Essas perdas representam recursos drenados da economia nacional que poderiam estar circulando na matriz produtiva, criando mais empregos e renda", diz o presidente da Faesp, Fábio Meirelles.

Segundo ele, a questão da infra-estrutura já está limitando a produção brasileira, "já que os investimentos na malha ferroviária, rodoviária e nos portos são insuficientes".