Título: Gays não convencem Severino
Autor: Denise Madue¿o
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2005, Nacional, p. A4

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), disse ontem a representantes do movimento de gays, lésbicas e transgêneros que os projetos de interesse do grupo, como o que autoriza o casamento de pessoas do mesmo sexo e o que proíbe discriminação contra homossexuais serão votados assim que estiverem prontos. Mas advertiu: como presidente da Câmara, será juiz e magistrado, e como deputado de convicções religiosas contra a união gay, descerá da Mesa para subir à tribuna e trabalhar pela rejeição do projeto da união civil para eles. "O Legislativo é um instrumento da democracia, o movimento de vocês é parte dessa democracia. Depois de ouvir o colégio de líderes, eu votarei os projetos do interesse de vocês, mas não deixarei de manifestar minha opinião contrária e minha luta contra a aprovação daquilo com o qual não concordo", afirmou Severino. Integrantes do movimento gay, como Welton Trindade, Beto de Jesus e Cláudio Nascimento, disseram a Severino que querem apenas que os projetos saiam da gaveta, a exemplo do que ocorreu com a Lei da Biossegurança, que tinha pontos, como o da liberação das pesquisas com células-tronco, condenados por Severino.

A ida de pelo menos 50 representantes do movimento gay ao gabinete de Severino agitou o Salão Verde da Câmara. Quando Severino passou pelos militantes gays, que formavam um corredor enquanto o esperavam, Beto de Jesus, que representa a Associação Internacional da categoria, correu atrás do presidente da Câmara, gritando: "Ô Severino, nós queremos é casar". Ao final, e ao lado de Severino, todos eles cantaram o Hino Nacional.

"Respeito vocês, é a primeira vez que o presidente da Câmara recebe representantes do movimento", disse Severino (Errou. Quando presidente da Câmara, em 1996, Luiz Eduardo Magalhães recebeu os gays).

ORAÇÃO

Antes de falar com os representantes dos grupos homossexuais, Severino recebeu um grupo de seis parlamentares evangélicos em seu gabinete. Eles foram até lá orar para que Severino não se contaminasse pelos argumentos dos homossexuais. "Queremos sensibilizar o presidente da Câmara a manter suas convicções em defesa da família e do matrimônio", disse o deputado Pastor Pedro Ribeiro (PMDB-TO).

Os gays, que esperavam na sala maior, começaram a reclamar da demora. "Ô Severino, cadê você, viemos aqui só pra te ver", gritavam. Cris Stéfani, uma transgênera de Mato Grosso do Sul, que nasceu homem e luta para mudar de sexo, dizia a todos que daria um beijo em Severino para ver se ele se transformaria em príncipe, mas acabou desistindo da idéia.