Título: Colômbia avisa que grupo manda droga para o Brasil
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2005, Nacional, p. A8

Vice-presidente afirma também que governo colombiano desconhece suposto envio de dinheiro ao PT GENEBRA O vice-presidente da Colômbia, Francisco Santos, alerta que "praticamente toda a produção de drogas sob controle das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) tem como destino hoje o Brasil". Em entrevista exclusiva ao Estado, Santos admite que seu governo desconhece as informações sobre uma suposta tentativa das Farc de dar dinheiro para as campanhas eleitorais do PT, em 2002. Mas alerta que a estratégia de tentar financiar partidos políticos é uma tática que faz parte da "lógica das Farc". Informações publicadas na imprensa revelam que um documento nos arquivos da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) indicaria uma promessa de doações por parte das Farc ao PT. Santos conta que as Farc têm usado a tática de financiar prefeitos em muitas cidades colombianas, principalmente na área próxima à Venezuela.

Segundo o vice-presidente, as operações militares do governo colombiano nos últimos anos têm limitado a área de atuação do grupo armado e levado as Farc para o 'interior da Amazônia". Seria possível, na avaliação de Santos, que membros do movimento houvessem cruzando a fronteira com o Brasil em alguns episódios.

O número dois do governo de Álvaro Uribe não deixa de elogiar os esforços do governo de Luiz Inácio Lula da Silva em relação às questões do controle das fronteiras e anuncia que, no próximo dia 29, seu governo se reunirá com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e Lula para reforçar a coordenação entre os países nas fronteiras.

Santos, porém, afirma que uma mudança de postura do Brasil em relação às Farc poderia facilitar a luta contra o grupo. O que os colombianos querem é que o País declare as Farc como um movimento terrorista. "Isso ajudaria muito, pois mostraria aos integrantes das Farc que estão isolados e geraria uma barreira política importante. Eles teriam de buscar outra solução para suas reivindicações, como participar do processo político", afirma o vice-presidente.

Sobre o tráfico de drogas, Santos deixa claro que quase tudo que é produzido pelas Farc é exportado ao Brasil. A rota, segundo ele, não incluiria apenas atravessar a floresta amazônica em direção aos Estados do Norte no Brasil. "Temos observado que a rota é mais longa, passando por Peru, Bolívia, Paraguai e entrando no mercado brasileiro", explica.

Para Santos, o governo colombiano pela primeira vez pode dizer que existe uma possibilidade de derrotar as Farc. Em sua avaliação, porém, uma vitória seria "romper a vontade de lutar das Farc".