Título: O Midas financeiro tinha pés de barro
Autor: Fábio Alves
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2005, Economia, p. B17

'Engenharia financeira' de Dantas resultou em mais de 50 ações na Justiça RIO - Quando deixou o banco Icatu, no início de 1994, com fama de Midas da engenharia financeira, para fundar o próprio negócio, o Opportunity, Daniel Dantas rapidamente mostrou o que é uma gestão oportunista e astuciosa. Surfando com intimidade na onda das privatizações, conseguiu a proeza de, com pouco dinheiro, fazer de seu banco o manda-chuva em negócios onde terceiros aportaram pequenas fortunas. Enquanto investidores nacionais e estrangeiros destinavam bilhões a empresas, principalmente do setor de telefonia, o Opportunity entrava na parceria com "a engenharia financeira". E foi com essa metodologia, calcada na sobreposição de dezenas de empresas no organograma que define o controle de uma companhia, que o banqueiro se sobrepôs também ao poder tanto dos abastados fundos de pensão de estatais Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobrás) e Funcef (Caixa Econômica) quando dos conglomerados de telefonia como a Telecom Italia e a canadense TIW. Do mesmo modo, entraram no rol dos majoritários com poderes mínimos os investidores reunidos num fundo do americano Citibank.

A desconfiança entre os parceiros demorou dois anos para surgir. Mas a partir de 200, tornaram-se rapidamente um barulhento caso de litígio judicial, especialmente em torno do controle de gestão da Brasil Telecom, operadora de telefonia fixa resultante da cisão e privatização do Sistema Telebrás.

A composição acionária da empresa, com base de atuação em nove Estados e mais o Distrito Federal, foi desenhada com uma "aranha" (jargão como é designado organograma) com muito mais de oito pernas. Hoje, mais precisamente, são 18 tentáculos que deságuam na Solpart, holding controladora da Brasil Telecom, formada por Techold (19% do capital votante), Stet International (19%) e Timepart (62%). Maior acionista da Timepart: Luiz Raimundo Tourinho Dantas, pai de Daniel.

Foram quase cinco anos de uma acirrada guerra judicial (estão registradas mais de 50 ações na Justiça) para que os fundos de pensão conseguissem destituir o CVC Opportunity FIA (fundo sob o qual foram abrigados os investidores nacionais) da gestão dos negócios na Brasil Telecom. Antes disso, muita gente jogou a toalha. Investidores estrangeiros, como a TIW, deixaram o Brasil.

Vitoriosos, os fundos iniciaram o cerco ao Citigroup e conseguiram conquistar o investido americano no ano passado. Conta-se, nos bastidores, que ambos estão interessados em sair do negócio, mas com lucro, sem a intermediação de Daniel Dantas.