Título: 'Todo mundo sabia que tinham armas'
Autor: Mauro Mug
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2005, Metrópole, p. C3

Cunhado de um dos mortos conta que o detento dizia que o CDP estava perigoso Os agentes penitenciários William Nogueira Benjamin, de 28 anos, e Vicente Luzan da Silva, de 31, foram mortos no início da rebelião, na madrugada de ontem. William havia sido transferido recentemente do CDP de Osasco para o de Pinheiros. "Ele era recém-casado, morava com a gente em Franco da Rocha, e há pouco tempo se mudou para Francisco Morato, com a mulher", disse Wellington Nogueira Benjamin, irmão do agente. A família recebeu a notícia logo após o crime. "A Secretaria de Administração Penitenciária ligou e comunicou o que tinha acontecido. Fomos correndo até o CDP e até agora tem sido uma correria", disse Wellington ontem à noite, enquanto esperava a chegada do corpo ao Instituto Médico-Legal (IML) central, em Pinheiros. Até as 22h30, os corpos dos funcionários não haviam sido transferidos do Pronto Socorro da Lapa.

O cunhado de Vicente, Isao Araújo de Lima, de 30 anos, lembra que ele havia comentado que o CDP de Pinheiros estava perigoso. "Todo mundo sabia que os presos já tinham as armas."

Em quatro anos de trabalho no CDP, a rebelião de ontem foi a única que Vicente enfrentou. "No domingo a gente se encontrou para um churrasco. Ele sabia que era perigoso, mas precisava trabalhar, não tinha alternativa", disse Luciano Lucena da Silva, de 35 anos, irmão de Vicente. "A mulher dele foi avisada de manhã para ir até a cadeia. Até sabermos da morte demorou muito. Não deixamos ela vir até aqui porque estava muito nervosa", disse Lima.

Vicente era casado havia seis anos e tinha dois filhos, de 3 e 5 anos. "Judiaram muito dele. Não precisava de tanta violência, ele era uma pessoa muito calma. Não queremos impunidade", disse Luciano. O corpo de Vicente deve ser velado hoje no Cemitério Central de Franco da Rocha, onde morava. A família de William ainda não definiu onde será o velório.