Título: Detentos ameaçam e espancam reféns
Autor: Mauro Mug
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2005, Metrópole, p. C3

Secretário diz que agentes penitenciários foram assassinados a tiros porque tentaram impedir a fuga dos criminosos Dois foram mortos porque tentaram impedir a fuga. Os demais foram alvo da fúria dos presos, que os espancaram e ameaçaram durante a rebelião. Desde a madrugada, o drama dos reféns foi acompanhado pelo secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa. Era 1h45 quando o telefone tocou na casa de Furukawa. Fazia 45 minutos que a rebelião começara no Centro de Detenção Provisória-1 de Pinheiros, mas só então resolveram avisá-lo. Ele ouviu o relato da tentativa de fuga, dos tiros disparados e soube que havia reféns com os presos. Pouco depois, foi informado que não havia como tentar restabelecer a situação na prisão superlotada - com capacidade para 512, ela tinha 929 detentos. Era preciso esperar amanhecer. Segundo Furukawa, quando recebeu o telefonema, os presos já haviam assassinado dois agentes penitenciários - ele, no entanto, nada sabia. Willian Nogueira Benjamin, de 28 anos, e seu colega Vicente Luzan da Silva, de 31, foram mortos depois de caírem numa armadilha. O secretário contou que um preso simulou estar doente e chamou os carcereiros para que a cela fosse aberta. Surpreendidos, os agentes tentaram deter a fuga e foram baleados.

Atingido no abdômen, Benjamin agonizou por três horas até ser transportado para um hospital, às 4h40. Seu corpo tinha marcas de estrangulamento. O corpo de Silva só foi descoberto às 13 horas, quando os presos o entregaram à direção da prisão. Ele foi baleado nas costas e na garganta e sangrou muito. Tinha ainda marcas de pauladas.

Eram 5h10 quando mais um agente baleado saiu do CDP-1. Era Gilvan Teixeira Dias, atingido no peito. Ele estava internado no Hospital das Clínicas até as 22 horas. "Seu estado é grave", disse Furukawa. O outro ferido foi Ronaldo Ferracini. Ele levou um tiro no quadril, fraturou o dedão direito e recebeu golpes na cabeça.

Dias, Ferracini e outros cinco agentes foram feitos reféns. O plano dos presos era fugir usando a tática do cavalo doido - sair correndo em grupo pela porta da frente da prisão. Agentes penitenciários e guardas da muralha perceberam e deram o alarme. Houve tiroteio. Os presos usaram reféns como escudos. A PM e o Grupo de Operações Especiais (GOE) reforçaram a segurança da cadeia - a tropa de choque só chegaria às 6 horas.

CAMISETAS

No início da manhã, os reféns tiveram os rostos cobertos com panos e camisetas e foram levados para o telhado do presídio. Presos com as cabeças cobertas e armados com facas improvisadas ameaçavam matá-los. Chegaram a simular que jogariam um funcionário de cima do muro. Isso não aconteceu, mas, às 10h30, uma outra ambulância saiu às pressas transportando o agente Ferracini.

Desde o início do motim, o coordenador das unidades prisionais da capital e Grande São Paulo, Perci de Souza; o corregedor da secretaria, Antonio Ruiz Lopes, e o responsável pelo setor de segurança penitenciária, coronel Olynto Bueno Neto, negociavam com os detentos. A rebelião acabou às 15h10. Para tanto, os presos exigiram que a entrega das armas fossem filmada pelos helicópteros de emissoras de TV.

Minutos após, um helicóptero da Rede Globo sobrevoou a prisão. Não houve confirmação se a filmagem ocorreu, mas as armas foram entregues e os três agentes ainda reféns, libertados. "Só saberemos se eles tinham mais armas na revista que faremos nos próximos dias ", disse o coronel Tomaz Cangerana, da PM.