Título: EUA podem deportar 57 brasileiros
Autor: Tonica Chagas
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2005, Metrópole, p. C10

Prisão de empresário mineiro provoca efeito dominó e deixa em pânico milhares de integrantes de colônia brasileira em dois Estados NOVA YORK - A prisão do dono de uma empresa de limpeza e mais 57 brasileiros ilegais que trabalhavam para ele pôs a sombra da deportação sobre milhares que vivem na mesma situação nos Estados americanos de Connecticut e Massachusetts. As prisões ocorreram na madrugada de anteontem, enquanto os brasileiros trabalhavam em 28 supermercados da rede Stop & Shop da região de Hartford, em Connecticut, e cidades vizinhas. José Neto, mineiro de 38 anos, dono da Spectro Cleaning Services, localizada na cidade de Alliston, Massachusetts, é acusado de subornar um agente federal na tentativa de obter para ele, a esposa e outras pessoas o green card - documento para residência permanente de estrangeiros nos Estados Unidos. Neto foi preso na terça-feira e, por seu depoimento, agentes do Immigration and Customs Enforcement (ICE) chegaram aos outros brasileiros presos.

Muita gente ficou ontem sem o trabalho de domésticas, carpinteiros, garçons e outros empregados brasileiros na região. "Todo mundo está morrendo de medo de que isso continue e muitos preferiram não ir trabalhar", disse a mineira Ester Sanchez-Naek, presidente do Centro Cultural Brasileiro Shaheen. Um censo informal feito pelo centro com sede em Hartford aponta de 8 mil a dez mil brasileiros vivendo na região.

Nota divulgada ontem pela Procuradoria Federal do Distrito de Massachusetts acusa Neto de subornar um agente federal, induzir estrangeiros a permanecer nos Estados Unidos ilegalmente e contratar gente que ele sabia não ter autorização para emprego. Se for condenado, poderá pegar até 15 anos pela primeira acusação, mais 5 anos pela segunda e mais 6 meses pela última. A primeira audiência de seu caso foi marcada para o dia 21. Os brasileiros que trabalhavam para ele foram levados à Suffolk County House of Correction, de Boston, mas poderiam ser transferidos para diferentes prisões. Todos deverão ser processados e poderão ser deportados.

A Procuradoria informou ontem que Neto estava entre cerca de 700 estrangeiros sob investigação por suspeita de vender identidades americanas falsas. Segundo a nota, Neto marcou encontro com um agente do ICE num supermercado. No encontro, que teria sido gravado, pagou US$ 20 mil em dinheiro e deixou claro que, em troca, esperava green cards para ele e a mulher. Depois, pagou mais US$ 5 mil e US$ 4 mil ao mesmo agente para garantir a liberação de imigrantes ilegais que já estavam sob custódia do ICE.

SACRIFÍCIOS

A maioria dos 57 brasileiros presos anteontem era de Minas e Santa Catarina. "Quero que esse cara apodreça na cadeia", desabafou o catarinense Ronaldo Ferrari, referindo-se a Neto. "Por causa dele, pessoas que fizeram sacrifício para chegar aos Estados Unidos, como meu pai, que passou fome e sede para atravessar a fronteira pelo México, agora podem ser deportadas." O pai dele, Valmir Ferrari, de 54 anos, trabalhava para Neto havia um mês e meio, ganhando US$ 400 por semana na limpeza de supermercados.

A operação do ICE foi semelhante à que ocorreu em outubro de 2003, quando foram presos cerca de 250 imigrantes ilegais de várias nacionalidades que trabalhavam em 61 lojas da rede Wal-Mart, em 21 Estados americanos. Entre eles, havia quatro brasileiros. A Stop & Shop tem 345 lojas espalhadas por Connecticut, Massachusetts, New Hampshire, New York, New Jersey e Rhode Island, onde vivem mais de 500 mil brasileiros.