Título: Lojas vão cortar promoções
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2005, Economia, p. B3

Indicadores de vendas mostram que consumo ainda resiste Grandes redes varejistas, como Lojas Colombo e Casas Bahia, vão continuar reduzindo o número de promoções voltadas para as taxas de juros por conta da nova elevação da Selic de 18,75% para 19,25% ao ano. E os números mostram que, pelo menos por enquanto, essa reação das empresas não tem prejudicado seus resultados: tanto é que as vendas a prazo ainda não foram fortemente afetadas pela alta da taxa básica desde setembro 2004. Na 1.ª quinzena deste mês, o volume de consultas para aprovar a abertura de novos crediários registrados pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) aumentou 6,6% em relação a igual período do ano anterior. Até setembro de 2004, antes do início do período de escalada da Selic, a taxa de crescimento das vendas a prazo estava 7,4% maior na comparação anual; em dezembro, fechou com acréscimo de 6%; mas voltou a se acelerar em janeiro e fevereiro, com altas de 6,8% e 6,6%.

"Até agora o efeito da alta da Selic nas vendas foi marginal e recaiu sobre as redes menores", afirma o economista da ACSP, Emílio Alfieri. Ele observa que o reflexo foi atenuado por causa das promoções agressivas, o aumento dos empréstimos com desconto em folha de pagamento e as parcerias fechadas entre lojas e bancos.

Também o ritmo de crescimento das vendas à vista na 1.ª quinzena deste mês praticamente se manteve, isto é, aumentou 3,3% na comparação anual. No mês passado, a taxa havia sido de 3,7%. O economista destaca que, neste caso, a recuperação do emprego é que está impulsionado as vendas desde o fim do ano passado.

Apesar do impacto da alta da Selic ter sido pequeno até agora nas vendas financiadas do comércio, Alfieri ressalta que há um temor de que os negócios a prazo não se sustentem daqui para frente, especialmente com a elevação de ontem. "Eles (o Banco Central) estão esticando a corda e daqui a pouco ela poderá se romper."

Para o presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, Abram Szajman, continuar aumentando os juros para trazer a inflação para 5,1% neste ano pode custar um número elevado de empregos e uma redução indesejável na taxa de crescimento do País.

Nas Lojas Colombo, por exemplo, as vendas cresceram 10% na 1.ª quinzena deste mês em relação a igual período de março de 2004, diz o diretor, Marcelo Bellizia Scarabichi. Ele observa que não houve desaceleração no volume de negócios. Mas, para contrabalançar a elevação da Selic, a rede reduziu em cerca 30% o número de promoções focadas nos juros. Ele diz que pretende continuar usando essa estratégia.

Na Lojas Cem, no entanto, nada muda com a elevação dos juros, diz o supervisor-geral, Valdemir Colleone. "Não subimos o juro ao consumidor até agora e não vamos alterá-lo." Ele explica que a opção da rede foi por ampliar os volumes de vendas e, com isso, mais do que compensar a elevação do custo financeiro. "Nos habituamos a trabalhar com determinados volumes e fazemos para não deixar que eles se reduzam."