Título: Sardinhada contra o BC
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2005, Economia, p. B3

Força Sindical protesta em Brasília para impedir alta do juro BRASÍLIA - A política de juros do Banco Central (BC) conseguiu ontem reunir numa mesma manifestação um malufista, um ex-malufista e um eleitor do Partido dos Trabalhadores (PT) de carteirinha. "Em toda eleição, eu só voto no PT. Voto de cabo a rabo", dizia o trabalhador da construção civil Vicente Guimarães. Com 71 anos, Guimarães era um dos cerca de 70 manifestantes trazidos pelo Força Sindical de São Paulo, do Rio e do Paraná para um protesto em frente à sede do BC a fim de tentar impedir que o Comitê de Política Monetária (Copom) promovesse nova alta da taxa básica de juros (Selic).

Mas ele não tinha muita esperança de que o protesto conseguisse mudar a posição da diretoria do BC, que compõe o Copom. "Esse pessoal é muito cabeça dura. Acho difícil mudar alguma coisa", disse.

Apesar do pessimismo, ele disse que acredita na importância de uma manifestação. "O começo é assim mesmo, vem pouca gente. Mas depois vai crescendo e aí pode ser que algo mude", disse. A política de juros é vista pelo eleitor do PT como o grande pecado do governo. "Não precisa desse juro tão alto. Só quem ganha com isso são os bancos", afirmava.

Guimarães chegou por volta do meio-dia à frente ao prédio do BC, onde a Força Sindical instalou uma churrasqueira para assar sardinhas. A idéia era que o cheiro forte do peixe e a fumaça subissem até o 8º andar do prédio, onde os diretores discutiam a nova taxa de juros.

Mas, por hábito, as janelas ficam fechadas a maior parte do tempo. As maiores vítimas eram as pessoas que passavam perto do prédio e saíam com as roupas cheirando a sardinha.

A manifestação foi pacífica. Havia policiais nas entradas do prédio, mas o ânimo dos sindicalistas estava mais festas do que para confronto. Foram distribuídos pães para acompanhar as sardinhas.

O acepipe, porém, não agradou. "Eu até experimentei, mas está difícil comer", disse o desempregado (há mais de um ano) Wolney Florindo. "Votei no Lula em 2002 e não voto mais", afirmou, confessando ser malufista e desconhecer a razão do protesto.

O aposentado José Paulo Amorim se declarou ex-malufista e também um crítico feroz da política de juros. "Isso não tá bom no governo dele (Lula)", disse.