Título: Após decisão, fim do ajuste é dúvida
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2005, Economia, p. B3

Comunicado lacônico do Copom joga um balde de água fria em quem apostava que esta alta de juros seria a última do ciclo RIO - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) aumentou a taxa de juro básica, a Selic, em meio ponto porcentual ontem, levando-a para 19,25% ao ano. Foi a sétima elevação consecutiva desde setembro, quando a taxa estava em 16%, numa alta total de 3,25 pontos porcentuais. A curta declaração que acompanhou a decisão repetiu a da reunião de fevereiro: "Dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa de juros básica iniciado na reunião de setembro de 2004, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 19,25% ao ano, sem viés".

A decisão foi encarada como conservadora por diversos analistas e, combinada com o comunicado, jogou um balde de água fria em quem apostava que seria a última subida da Selic. A maior parte do mercado, segundo a Agência Estado, previu que a alta seria de 0,50 ponto. Ainda assim, como observou Alexandre Pavan Póvoa, economista-chefe do Modal Asset Management, "a decisão veio na banda mais pessimista".

Póvoa notou que parte expressiva do mercado apostou em alta de 0,25 ponto porcentual e, mesmo entre a maioria que previu a alta de 0,50, muitos esperavam que, na breve declaração que acompanha a decisão, o BC desse algum sinal de que o fim do aperto monetário era iminente, ao contrário do que aconteceu.

Ele lembra que, diferentemente da declaração que acompanhou as últimas duas decisões do Copom, a ata da reunião de fevereiro veio num tom mais otimista e levou muitos analistas a prever o fim do ciclo de alta em março.

Agora, comenta, "corretamente o BC não se comprometeu com nada, e eu acho que não deve se comprometer nem na ata, que não deve vir tão suave quanto a última". A razão para isso, segundo o economista, é a piora do cenário externo nos últimos dias, com alta do dólar no Brasil e uma nova rodada de pressão no preço das commodities.

Já para o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, "continua plausível que esse seja o último aumento da Selic". O Bradesco previu uma subida de 0,25 ponto ontem, mas, em entrevista antes da decisão, Barros dizia que uma alta de 0,50 era possível.

Quanto à declaração que acompanhou a decisão, o economista disse que "o Banco Central tem interesse em manter a dúvida (sobre quando vai encerrar o ciclo de aperto)". Para Barros, a decisão de ontem foi um "aumento enquadrador de expectativas, que deram uma pequena deteriorada". Com a alta do dólar e o cenário internacional mais nervoso nos últimos dias, as projeções de inflação para 2005 subiram na última rodada de coleta do BC, para 5,77%, ante 5,72% na anterior (a meta ajustada para o ano é de 5,1%).

Ao contrário da maioria do mercado, o banco ABN Amro apostava na manutenção na Selic. "Achávamos que não havia necessidade de continuar elevando os juros", disse Jankiel Santos, economista do ABN. Segundo ele, o BC já tinha elementos suficientes para interromper o ciclo de alta: os indicadores de atividade estão desacelerando e os preços industriais, recuando. "Já haveria espaço para parar e esperar a política monetária fazer efeito." Santos acredita que essa será a última alta da Selic no semestre.

O diretor-executivo do Banco Itaú, Sérgio Werlang, observou que os núcleos da inflação estão bem comportados, a produção industrial e as vendas no varejos tiveram queda sazonal em janeiro e os indicadores de capacidade ocupada recuaram nas últimas medições - razões para se interromper o ciclo de alta da Selic.

Alexandre Ázara, economista-chefe do Itaú BBA, prevê que ainda haverá aumento de 0,25 ponto porcentual na Selic em abril ou maio. Ele observa que, no próximo Relatório de Inflação, documento trimestral detalhado do BC, a projeção do IPCA para 2005 deve ser de pelo menos 5,5%, acima da meta de 5,1%.

Independentemente do momento em que a Selic parar de subir, a maioria dos economistas projeta que a taxa básica só comece a cair no segundo semestre, em agosto ou setembro. Para Werlang, o expansionismo fiscal do governo fará com que os juros reais permaneçam altos por mais tempo.