Título: Juro eleva dívida em R$ 2,4 bi
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2005, Economia, p. B4

Parcela corrigida pela Selic está em 56,6% e sofre impacto a cada decisão do Copom, como a de ontem BRASÍLIA - A dívida da União em títulos corrigidos pela variação do câmbio caiu em fevereiro ao menor nível: 6,02% do estoque. Essa queda ajudou a diminuir a percepção de risco sobre a dívida, mas concentrou as atenções em outro ponto de vulnerabilidade: a parcela da dívida corrigida pela taxa Selic, que está em 56,6%. Dessa forma, cada decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de subir juros tem um custo elevado sobre o próprio governo. A alta de 0,5 ponto porcentual decidida ontem representará despesas adicionais de R$ 2,4 bilhões. Os administradores da dívida pública tentam sair dessa situação vendendo mais papéis cuja remuneração é acertada previamente (prefixados). Em fevereiro, o total da dívida pública interna em títulos chegou a R$ 845,4 bilhões, um aumento de R$ 18,7 bilhões sobre o mês anterior. Essa alta se deveu ao fato de que o total de títulos emitidos foi menor do que o valor resgatado e à incorporação dos juros sobre a dívida. Desde o início do ano, a dívida cambial caiu US$ 14,4 bilhões (cerca de R$ 40 bilhões), puxada pelas operações do Banco Central com contratos especiais de câmbio, chamados swap. Somente nos primeiros dias deste mês, a queda chega a US$ 3,5 bilhões (R$ 9,7 bilhões).

Com isso, a participação dos papéis cambiais no total da dívida, que era de quase 10% (R$ 80 bilhões) em dezembro de 2004, está em 6,02% (R$ 50,9 bilhões). Esse desempenho deixou a dívida menos vulnerável às oscilações na taxa de câmbio mas, ao mesmo tempo, desviou o foco das análises sobre a trajetória da dívida pública para a parcela dos títulos que acompanham o sobe-e-desce da taxa Selic, conhecidos como pós-fixados. Esses papéis, que representavam 52,41% da dívida em títulos no fim de 2004, somam atualmente 56,6%. Como a remuneração paga aos investidores depende do valor da Selic no vencimento, a cada alta dos juros, o estoque aumenta praticamente na mesma proporção.

Somente a alta de 0,5 ponto porcentual anunciada ontem pelo Copom terá impacto de R$ 2,4 bilhões no estoque dessa dívida pós-fixada, que fechou o mês passado em R$ 478,47 bilhões. Como a expectativa é de novas elevações dos juros, a tendência é de mais crescimento, o que afeta diretamente o saldo total do endividamento em títulos. Em fevereiro, o estoque dessa dívida cresceu R$ 18,69 bilhões, passando de R$ 826,7 bilhões, em janeiro, para R$ 845,39 bilhões.

Praticamente metade da alta se deveu à incorporação de juros. O restante foi por causa da vendas de títulos no período. Por isso mesmo, o Tesouro tenta diminuir a venda dos papéis que seguem a Selic e aumentar a de títulos prefixados, que, por terem a remuneração definida na hora da negociação, são considerados de melhor qualidade e reduzem a exposição da dívida à taxa de juros. No entanto, desde o fim do ano passado, a participação dos títulos prefixados ficou praticamente inalterada: 20,09% (R$ 162,76 bilhões) em dezembro e 20,43% (R$ 172,75 bilhões) em fevereiro.

A estratégia para tentar aumentar a participação dos prefixados e alongar os prazos de vencimento da dívida inclui a venda de títulos criados há cerca de um ano que, apesar de terem a rentabilidade fixada, garantem aos detentores o pagamento semestral de juros. Ainda assim, a negociação ainda é tímida. Desde a criação do papel, foram vendidos R$ 8,7 bilhões, com maior interesse de investidores estrangeiros.