Título: Capital externo na Bolsa cresce 158%
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2005, Economia, p. B4

Até 10 de março, saldo de investimento somou R$ 5,02 bilhões e participação subiu para 32,5% A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registrou entrada recorde de recursos estrangeiros nos primeiros 3 meses do ano, até o dia 10. O saldo dos investimentos somou R$ 5,02 bilhões - volume 158% superior ao do mesmo período de 2004. Com isso, a participação dos estrangeiros na Bolsa paulista subiu de 27,3%, no ano passado, para 32,5%. "É o melhor momento para a atratividade de capitais nos últimos seis anos. Há muito tempo não via tanto otimismo com o Brasil", afirma o diretor de Renda Variável do Crédit Suisse First Boston (CSFB), Marcelo Kayath. A explicação está nos bons números da economia, com a evolução do PIB e aumento das exportações.

Segundo ele, no entanto, o mercado continuará sujeito a volatilidade, dependendo do cenário externo, especialmente do comportamento dos juros americanos. "Mas o País é atraente. Está tudo por fazer. O investidor só quer ver um pouco mais de estabilidade", argumenta Kayath. Ele diz que o novo estrangeiro no mercado brasileiro está em busca de papéis de empresas que tenham alguma ligação com o crescimento econômico do País, como os setores de varejo, crédito direto ao consumidor, infra-estrutura e petróleo. No passado, eles queriam apenas ações de empresas que estariam bem em qualquer cenário.

Boa parte desses investidores é de fundos de investimentos e fundos de pensão. O diretor-executivo do Deutsche Ixe, Roberto Rocha, acrescenta que são aplicadores novos em países emergentes. Com dólar fraco e aumento no preço das commodities, como minério de ferro, as empresas brasileiras se transformaram em foco desses investidores. Os papéis do setor bancário - que apresentou lucro recorde no ano passado - também têm atraído a atenção dos estrangeiros.

A divulgação dos balanços de 2004, a partir do mês passado, trazendo resultados espetaculares das empresas, contribuiu para o movimento de capital externo na Bolsa. Só em fevereiro, ela recebeu R$ 13,69 bilhões de recursos estrangeiros; as vendas somaram R$ 9,99 bilhões, e o saldo ficou em R$ 3,7 bilhões. O resultado é 135,8% superior ao R$ 1,57 bilhão de fevereiro de 2004. O movimento recorde explica em parte o recuo do dólar no mês passado, para R$ 2,59.

Na avaliação do superintendente de Renda Variável da BankBoston Asset Management, Mario Quaresma, boa parte dos investidores estrangeiros no Brasil é de americanos. Com o juro básico dos Estados Unidos em 2,75% ao ano, e dos demais países desenvolvidos nos níveis mais baixos da História, eles decidiram procurar ativos mais arriscados, mas que dêem melhor retorno, afirma Quaresma. "Temos percebido um fluxo maior não só na Bolsa mas também nos títulos da dívida externa."

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet) e professor da PUC-SP Antônio Corrêa de Lacerda, esse ingresso forte de recursos é explicado pelo alto nível de liquidez de capitais do mercado financeiro internacional, boas oportunidades de valorização de ações das empresas que operam no Brasil e conjuntura econômica favorável, com crescimento do País e redução da vulnerabilidade das contas externas.